O ATO DA VERDADE
por Aleister Crowley
Parece que na quarta-feira passada eu me esqueci de me referir ao “Ato da Verdade” em nossa conversação, e jamais mencionei o que isto é quando se está em casa, ou porque todos deveriam executá-lo, ou o que ocorre quando alguém realmente o executa!
Tudo bem, eu vou remediar isto; felizmente, esta é uma questão muito simples, muito importante, perfeita mente paradoxal e devastadoramente efetiva.
Ao se analisar, deve-se pressupor que alguma coisa que parece muito errada está realmente totalmente corre ta, que um desejo ansioso é um fato consumado. Uma ansiedade razoável, inteiramente infundada — e agir adequadamente.
Por exemplo, eu estou em algum lugar deserto, dependendo de um mensageiro semanal para o meu supri mento de comida. Se ele estiver um dia atrasado, é estranho; se estiver dois dias, significa dificuldade; se estiver três, um sério risco. Naturalmente, se fica ansioso assim que o dia se aproxima; talvez as condições climáticas, ou algum problema similar torna provável que ele se atrasará. Por uma razão ou outra, eu ultra passei o consumo da minha provisão. Não há nada que eu possa fazer a respeito disso, materialmente.
A atitude mais sensata de ação é cobrir os meus chifres, viver com o mínimo necessário para a subsistência, que envolve reduzir o trabalho do dia a quase nada, e esperar pelo melhor, na expectativa do pior.
Porém existe um modo de procedimento Mágico. Você diz para si mesmo: eu estou aqui para realizar esta Obra em conformidade com a minha Verdadeira Vontade. Os Deuses devem zelar para que eu não seja de sestimulado por qualquer mensageiro incompetente. (Mas tome cuidado para que Eles não lhe ouçam por acaso; Eles podem confundir isso com arrogância ou com presunção). Faça tudo isso dentro do Sinal do Silêncio, sob a proteção de Harpócrates, o “Senhor da Defesa e da Proteção”; seja cauteloso ao assumir sua Forma Divina, de pé sobre dois crocodilos. Então você aumenta o seu consumo, e ao mesmo tempo investe um monte de Trabalho extra. Se você realizar este “Ato de Verdade” adequadamente, com genuína convic ção de que nada pode dar errado, o seu mensageiro vai chegar um dia mais cedo, e trará um suprimento de tamanho extra.
Deixe-me dizer isso de uma vez, é muito difícil, especialmente da primeira vez, até que se tenha ganhado confiança na eficácia da Fórmula; e é muito sordidamente fácil se “enganar”. Seguir através dos movimentos (como eles dizem) é mais fútil aqui do que na maioria dos casos, e os resultados de se estragar tudo são ge ralmente desastrosos.
Você deve inventar o seu ato para se adequar ao seu caso, a todo tempo; suponha que você esteja na expec tativa de receber um telegrama na sexta-feira da próxima semana, transferindo dinheiro para a sua con ta. Você necessita de $500 para fazer um pagamento importante, e você nem sabe se eles enviarão ao menos $200. O que você vai fazer a respeito disso? Se restringir, poupar suas despesas, e se tornar miserável e in capaz de pensamentos ou atos vigorosos? Você pode conseguir poupar o suficiente para lidar com o assunto;
porém não conseguirá um centavo além da quantia realmente necessária — e contemplar o custo com gran deza moral!
Não, mas vá e ofereça a si mesmo um almoço regado a champanhe, e passeie pela Bond Street com um “Hoyo de Monterey 8½” e esbanje $30 com alguma bugiganga completamente inútil. Então os $500 aumen tarão para $1000 e chegarão dois dias antes daquela data!
Existem um ou dois pontos a considerar de fato muito cuidadosamente antes de você começar: —
1. O Ato proposto tem que ser absurdo; não vai funcionar de modo algum se por alguma casualidade, por mais que seja improvável, possa se relacionar com a sua meta. Por exemplo, é inútil apoiar um agente externo. Não deve haver ligação causal.
2. O Ato deve ser tal que torne a situação definitivamente pior. Por exemplo: suponha que você está contando com um novo vestido para fazer sucesso numa Recepção, e está em dúvida se este será muito melhor do que aquele que é atualmente o melhor de todos, ou se ele ficará pronto a tem po. Então, vista aquele que agora é o melhor para a noite (úmido, é claro), sabendo que certamente irá sujá-lo.
3. Obviamente, todas as condições comuns para uma Operação Mágica se aplicam a este assim como em todos os casos; o seu objetivo deve estar em conformidade com a sua Verdadeira Vontade, e isto é tudo; mas existe uma questão curiosa sobre um Ato de Verdade: esta, que se deve recorrer a este apenas quando não há nenhum outro método possível. No caso do explorador, acima, isso não funci
onará se ele tiver qualquer meio de apressar o mensageiro.
Parece-me que o breve esboço acima deve ser suficiente para um estudante inteligente e imaginativo como você; porém se ainda houver qualquer ponto obscuro, me informe, e eu farei o acompanhamento com um suplemento.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fraternalmente,
666
P.S.: — Eu acho que lhe ajudaria muito se você fizesse alguns experimentos. Eu fiz assim. Resultado: esta foi uma atividade muito mais difícil e delicada do que passei quando escrevi esta carta. Por exemplo, um único pensamento sobre uma “segunda alternativa” — do tipo “se isto falhar será melhor que eu faça isso e aquilo” — é o bastante para destruir toda a operação. Naturalmente, eu estou totalmente fora de forma; po
rém, mesmo assim...
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