Monday, December 2, 2024

ALEISTER CROWLEY - SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS


SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS 

por Aleister Crowley 





Cada criança deve desenvolver a sua própria Individualidade e Vontade, desconsiderando Ideais alheios.  

Na Abadia de Thelema em Céfalu os seus recursos e sua originalidade são confrontados com diversos  ambientes.  

Ela é confrontada com problemas tais como natação, escalada, trabalho de casa, e lhe é permitido resolvê-los  do seu próprio jeito.  

Seu subconsciente é impressionado pela leitura de obras primas da literatura, que se permitem infiltrar na  sua mente automaticamente, sem estresse seletivo e sem exigir compreensão consciente.  

Nada é ensinado, exceto Como pensar por si mesmo.  

Ela é tratada como um ser responsável e independente, encorajada na autossuficiência e é respeitada na sua  autoafirmação. 

II 

Educação é ajudar uma alma a se expressar por si mesma. Toda criança deve ser confrontada com todos os  problemas possíveis e lhe deve ser permitido fixar mentalmente as suas próprias reações; deve-se fazer com  que ela enfrente todas as contingências uma após a outra até que ela supere a cada uma com sucesso.  

Sua mente não deve ser influenciada, somente lhe devem ser oferecidos todos os tipos de nutrição. Suas  qualidades inatas a capacitarão a selecionar o alimento adequado à sua natureza.  

Respeite a sua individualidade! Submeta toda a vida para sua apreciação, sem comentários.  

A verdade ensina a compreensão, a liberdade desenvolve a vontade, a experiência confere desenvoltura, a  independência inspira autoconfiança. Assim o sucesso será garantido. 

III 

Toda criança é o Deus do seu próprio Universo. A educação desenvolve o controle sobre este.  

Nada deve ser ensinado exceto como controlar o seu meio ambiente. A verdade é a primeira condição; ela  deve observar todos os fatos cientificamente.  

Coragem, a segunda; ela deve abordar todos os fatos resolutamente.  

Organização, a terceira; ela deve integrar impressões e ordem.  

Deve ser permitida a ela autoridade absoluta sobre suas reações, porém a sua tendência em se iludir ou  evadir realmente devem ser cauterizadas através do confronto insistente com as realidades repugnantes.  

Ela deve conhecer claramente, ousar sem temor, querer integralmente e silenciar completamente. IV 

A educação prepara os indivíduos para enfrentar as circunstâncias.  

Desde a infância as crianças devem encarar os fatos, não adulterados por explicações.  Que elas pensem e ajam por si mesmas; que a sua integridade inata se manifeste!  Faça-as explorar todos os mistérios da vida, superar todos os seus perigos.  

Falsidade e medo são os seus únicos inimigos.  

Que elas presenciem nascimento, casamento, morte; que elas ouçam poesia, filosofia, história; force o  entendimento, mas não a sua expressão articulada. Faça-as enfrentar penhascos, as ondas do mar, animais,  descobrindo a sua própria fórmula de conquista.  

Imponha a Verdade a elas incansavelmente, tomando cuidado apenas para fazer com que seu alcance seja totalmente abrangente; deixe a seu encargo o uso dela. 

Que as crianças se eduquem para serem elas mesmas. Aqueles que as treinam para os padrões as mutilam e  deformam. Os ideais alheios impõe perversões parasitárias.  

Toda criança é uma Esfinge; ninguém conhece seu segredo a não ser ela mesma; tem a presunção Ignorante  de iniciar Isis?  

Que a Esfinge medite sobre o seu segredo até a sua hora; pode-se ajudá-la apenas deixando-a contemplar a  existência. Que ela observe todas as coisas na Terra e no Céu. 

Proteja-a contra a violação; fortaleça-a com lutas sucessivas. Que ela seja onisciente, onipotente,  aperfeiçoada pela sua própria Virtude para servir aos seus próprios propósitos — individual, independente,  iniciada — Ela mesma! 

VI 

Professores Procrustianos2, supondo a Si Mesmos como sendo a “Medida da Humanidade”, deformam as  crianças deliberadamente através de Ideais.  

Os jardineiros nunca tratam papoulas como tomates; eles nutrem cada planta conforme o seu próprio modo  de ser, buscando a excelência nas suas características particulares.  

Mesmo a educação elementar deve ser adaptada aos indivíduos; cada mente tem as suas próprias  peculiaridades. Por que não colocar os corpos dos garotos em moldes de gesso de “Perfeição”?  

Toda pressão sobre material plástico é perniciosa, impedindo as suas verdadeiras tendências, e pervertendo  as suas proporções. Crescimentos disformes compensam as compressões.  

A educação deve acostumar a mente a enfrentar todas as eventualidades, interpretando, julgando e reagindo  conforme a sua necessidade individual exigir. 

VII 

A maioria das pessoas corrompe as crianças propositadamente, alegando a necessidade de protegê-las. A  falsidade confunde as concepções corretas; o cérebro, aturdido, logo encontra evidência conflitante. A  contradição entre os fatos observados e o ensinamento revolta a sua integridade.  

As crianças desconfiam do Universo; a inteligência se revolta; anos de dolorosa incerteza se vingam da  decepção original. As crianças também são treinadas para falsificar, sofisticar, negar ou esquecer os fatos;  proibidas de encará-los.  

Empunhando as armas erradas, elas se defrontam com inimigos desconhecidos ou desorientados.  

A natureza se torna traidora; elas desconfiam de si mesmas; como o trapaceiro do bilhar de Gilbert, eles  jogam “sobre um pano falso com um taco retorcido e bolas de bilhar ovais”.


                                                            VIII 

Na Abadia de Thelema em Céfalu as crianças são como adultos. As realidades são seu direito; elas observam  sem paixão e agem com responsabilidade. Elas são induzidas a se desenredar de emergências progressivas.  Elas se exercitam, nadam, escalam, jogam, exploram sozinhas a cidade ou o campo; elas ouvem palavras  confiáveis. Elas usam as suas mentes adequadamente, nunca de maneira forçada.  

Elas aprendem a enxergar a verdade, ter coragem, cortesia e independência; a se preocupar com seus  próprios assuntos, respeitando os direitos dos outros, e ao mesmo tempo se ressentem com interferências.  

Compreendendo as realidades com exatidão e agindo adequadamente sobre estas, ao invés de chorar, se  apegar, se diminuir, e “fingir”, elas controlam a si mesmas e ao ambiente. 

IX 

Os cérebros jovens armazenam impressões sensoriais sem necessariamente julgá-los. As faculdades mentais  superiores se desenvolvem gradualmente.  

É um ato criminoso forçar o crescimento, especialmente em direções dogmáticas. Reflexão, classificação,  coordenação são instrumentos da mente em crescimento para lidar com acúmulos de detalhes. A educação deve simplesmente fornecer os fatos, inteligíveis ou não, de toda ordem. Evite comentário, explicação,  julgamento moral; a mente infantil deve administrar o seu material.  

A verdade deve ser ensinada como condição de relação correta, e a coragem como a de reação correta.  

O indivíduo igual ao seu ambiente se desenvolve com perfeição. Crianças assim educadas são absolutamente  elas mesmas, ajustadas para compreender e agir através de evolução autônoma. 

A evolução exige indivíduos excepcionais, mais adaptados ao seu meio ambiente do que seus pares. A  espécie prospera ao imitar os excêntricos competentes.  

A mediocridade, a pretensa moralidade, protegem o inapto, mas evitam o progresso, desencorajam a  adaptabilidade e garantem a completa ruína para a raça.  

Padrões de educação, ideais de Certo-e-Errado, convenções, credos, códigos, Humanidade estagnada.  Estimule indivíduos originais. Cuidado para não desajustar a Pedra Angular, ou jogá-la no meio do entulho! 

A mediocridade queria que Keats fosse boticário, Gaugin um banqueiro, Clive um balconista, Maomé um  condutor de camelo!

A natureza necessita de nobreza. 

A vitalidade reivindica variedade.  

A eminência conquista o progresso.  

A superioridade garante a sobrevivência.  

A excentricidade evita a atrofia.  

Uma ninhada para Behemoth5

XI 

Toda criança é absoluta.  

Não ouse influenciá-la ou restringi-la!  

Dê à semente condições de germinar! 

Na maturidade, a sua mente 

Aprimorará seu fruto adequado,  

Autodeterminado, autodesignado!  

Ousas tu desviar aquela sensibilidade 

Para as tuas fantasias ou teorias?  

Quem ordenou a ti para avaliar 

Maravilhas ocultas aos teus olhos?  

Intrometido, enlameado! A tua conjetura  

Garante a mais prodigiosa sabedoria?  

Que ela conheça e avalie as coisas,  

Compare-se com elas, cruze 

Com segurança o abismo—A terra canta: 

“Se você sabe e quer, você pode!” 



No comments:

Post a Comment

ALEISTER CROWLEY - SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS  por Aleister Crowley  I  Cada criança deve desenvolver a sua própria Individualidade e Vontade, desconsideran...