A PALAVRA DE PECADO É RESTRIÇÃO
por Aleister Crowley
“A palavra de Pecado é Restrição. Ó homem! Não recuseis tua esposa, se ela o quiser! Ó amante, se quereis, ide embora! Não há vínculo que possa unir o dividido senão o amor: tudo o mais é uma maldição. Maldito! Maldito seja pelos aeons! Inferno!” – AL I:41
O primeiro parágrafo é uma declaração ou definição geral de Pecado ou Erro. Qualquer coisa que seja que restrinja, impeça ou desvie a vontade, é Pecado. Ou seja, Pecado é o surgimento da Díada. Pecado é impure za.3
O restante do parágrafo toma um caso particular como exemplo. Não haverá propriedade sobre a carne hu mana. O instinto sexual é uma das expressões mais profundamente assentadas da vontade; e ela não deve ser restringida, seja negativamente impedindo a sua livre função, ou positivamente insistindo na sua falsa fun ção.
O que é mais brutal, tolher o crescimento natural ou deformá-lo?
O que é mais absurdo do que buscar interpretar este santo instinto como um grosseiro ato animal, separá-lo do entusiasmo espiritual sem o qual ele é tão estúpido quanto até mesmo insatisfatório para as pessoas inte ressadas?
O ato sexual é um sacramento da Vontade. Profaná-lo é o grande pecado. Toda expressão verdadeira dele é lícita; toda supressão ou distorção é contrária à Lei da Liberdade. Usar coação legal ou financeira para for çar, seja a abstenção ou a submissão, é inteiramente horrível, não natural e absurdo. Constrangimento físico, até certo ponto, não é tão seriamente errado; pois este tem as suas raízes no conflito sexual original que nós observamos nos animais, e tem sido muitas vezes o efeito do Amor excitado na sua forma mais elevada e nobre. Algumas das ligações mais apaixonadas e permanentes começaram com estupro. Realmente Roma foi fundada com base nisso. Similarmente, o assassinato de um cônjuge infiel é eticamente perdoável, num certo sentido; pois podem existir algumas estrelas cuja Natureza é extrema violência. A colisão de galáxias é um espetáculo magnífico, afinal. Porém não há nada de inspirador numa visita ao advogado de alguém. Na turalmente este é meramente o meu ponto de vista pessoal; uma estrela que viesse a ser um advogado pode ria ver as coisas por outro ângulo! Ainda assim a indescritível variedade da Natureza, embora esta admita a crueldade e o egoísmo, não nos ofereces nenhum exemplo sobre o puritano e o pretensioso!
Entretanto, para a mente da Lei existe uma Ordem de Ir; e uma máquina é mais bonita, salvo para o Pequeno Garoto, quando funciona do que quando ela quebra. Então, a Máquina de Matéria-Movimento é uma máqui na explosiva, com efeitos pirotécnicos; mas estes são apenas casuais.
As Leis contra o adultério estão baseadas na ideia que a mulher é uma propriedade, de modo que fazer amor com uma mulher casada é privar o marido dos seus serviços. Esta é a declaração mais franca e mais estúpida de uma situação de escravidão. Para nós, toda mulher é uma estrela. Portanto, ela tem o direito absoluto de transitar pela sua própria órbita. Não existe motivo pelo qual ela não deva ser uma dona de casa ideal, caso isto venha a ser a sua vontade. Mas a sociedade não tem o direito de insistir naquele padrão. Por razões prá ticas, foi quase necessário estabelecer tais tabus nas pequenas comunidades, tribos selvagens, onde a esposa nada mais era além de servente geral, onde a segurança das pessoas dependia de uma alta taxa de natalidade. Porém a mulher de hoje é economicamente independente, e se torna mais ainda a cada ano que passa. O re sultado é que ela afirma insistentemente o seu direito de ter um número seja maior ou menor de homens ou bebês quanto ela queira ou possa conseguir; e ela desafia o mundo a interferir com ela. Mais poder para ela!
A Guerra testemunhou o florescer desta emancipação em quatro anos. Pessoas primitivas, as tropas australi anas, por exemplo, estão dizendo que eles não se casarão com garotas inglesas, porque as garotas inglesas apreciam uma dúzia de homens por semana. Bem, quem quer se casar com elas? A Rússia já revogou for malmente o casamento. A Alemanha e a França tentaram ‘livrar as suas caras’ de uma maneira totalmente chinesa, ‘casando’ solteironas grávidas com soldados mortos!
A Inglaterra tem sido profundamente hipócrita, naturalmente, ao fazer pouco mais do que “abafar as coisas”; e está fingindo que tudo ‘segue dentro dos costumes’, embora cada púlpito é sacudido com o clamor de bis pos com olhos de morcego, chiando a respeito da terrível imoralidade de todos exceto deles mesmos e dos seus coristas. As inglesas acima dos 30 anos têm direito de voto; e quando as jovens conseguirem, então adeus ao velho sistema do casamento.
A América transformou o casamento numa farsa pela multiplicação e confusão das Leis de Divórcio. Uma amiga minha que tinha se divorciado do seu marido foi realmente, três anos mais tarde, processada por ele por divórcio!!!
Mas a América nunca espera por leis; seu povo vai em frente. As mulheres americanas emancipadas, que sustentam a si mesmas já agem exatamente como o ‘rapaz solteiro’. Às vezes ela perde a cabeça, e tropeça em um casamento, e machuca o dedo do pé. Logo ela estará farta da insensatez. Ela perceberá o quão imbe cil é se frustrar a fim de satisfazer os seus pais, ou para legitimar os seus filhos, ou para calar a boca dos vizinhos.
Ela terá os homens que quiser de forma tão simples quanto comprar um jornal; e se ela não gosta dos Edito riais, ou do Suplemento de Histórias em Quadrinhos, são apenas dois centavos que se foram, e ela pode comprar outro.
Burros cegos! que fingem que as mulheres são naturalmente castas! Os Orientais, que conhecem melhor todas as restrições do harém, da opinião pública, e daí em diante, se baseiam no reconhecimento do fato que a mulher é casta somente quando não há ninguém por perto. Ela arrebatará o bebê do seu berço, ou arrastará o cão para fora do seu canil, para provar o velho ditado: Natura abhorret a vácuo4. Pois ela é a Imagem da Alma da Natureza, a Grande Mãe, a Grande Meretriz.
Deve ser bem observado que as Grandes Mulheres da História exerceram uma liberdade ilimitada no Amor. Sappho, Semiramis, Messalina, Cleopatra, Ta Chhi, Pasiphae, Clytaemnaestra, Helena de Tróia e, em tem pos mais recentes, Joana d’Arc (segundo o relato de Shakespeare), Catarina II da Rússia, Rainha Elizabeth da Inglaterra, George Sand, “George Eliot”. Em oposição a estas podemos colocar apenas Emily Bronte, cuja repressão sexual era devido ao seu ambiente, e que deste modo explodiu na incrível violência da sua arte, e as místicas religiosas habituais, Santa Catarina, Santa Teresa, e assim por diante, cujos fatos da vida sexual foram cuidadosamente camuflados conforme os interesses dos deuses escravos. Porém, mesmo nestas circunstâncias, a vida sexual era intensa, pois os escritos de tais mulheres estão lotados com expressões se xuais apaixonadas e pervertidas, chegado até mesmo à morbidez e à verdadeira alucinação.
Sexo é a principal expressão da Natureza de uma pessoa; grandes Naturezas são sexualmente fortes; e a saú de de qualquer pessoa dependerá da liberdade daquela função.
(Vide Liber CI, “de Lege Libellum”, Cap. IV, em The Equinox III, I).
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