Monday, December 2, 2024

ALEISTER CROWLEY - MORALIDADE SEXUAL


MORALIDADE SEXUAL


por Aleister Crowley




 

Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei. 

Obrigado! Eu vou cobrir toda a questão sobre sexo em poucas palavras bem escolhidas? Eu deveria supor  que você quer dinheiro emprestado? Tal bajulação servil sugere uma abordagem indireta. 

De fato, sua proposta não é tão ultrajante como pode parecer à primeira vista; pois, dentro do alcance da  língua inglesa, na verdade dificilmente existe alguma coisa que valha a pena ler. 98,138 por cento desta é o  que Frances Ridley Ravergal costumava se referir como “cacete, blá-blá-blá, besteira, tolice, e todo o resto”. 

De qualquer forma, muito recentemente eu publiquei uma Encíclica aos Fiéis com o atraente título de  Artemis Iota, e eu proponho que a leiamos para registro, para evitar problemas e porque ela fornece uma  lista com praticamente todos os clássicos que você deveria ler. Ela também resume informações e aconselha  os “principiantes”, com a devida referência às prescrições positivas fornecidas em O Livro da Lei

Além disso, conforme o propósito destas cartas, eu gostaria de sintetizar toda a questão. A Árvore da Vida,  como de costume, proporciona um meio conveniente de classificação. 

1. Para o lado físico desta são utilizadas as leis psicológicas. “Não brinque com a serra elétrica!”, como  diria John Wesley, embora eu duvide que ele não tenha se enganado. 

2. O lado “moral”. Como no caso da voltagem de uma cissóide, não há nenhum. Meta-se com seus  próprios negócios! É a única regra suficiente. Envolver aspectos sociais, econômicos, religiosos é  irrelevância e impureza.1 

3. O lado Mágico. O sexo é, direta ou indiretamente, a arma mais poderosa do arsenal do Mago; e  precisamente por não haver uma orientação moral, ele é indescritivelmente perigoso. Eu dei muitos  avisos importantes, especialmente no Magick, e no Livro de Thoth — algumas das cartas são quase  obviamente reveladoras; então eu tenho batido sempre na mesma tecla seriamente a respeito de dar  fósforos às crianças como se fossem brinquedos. Minha desculpa tem sido a de que eles já  conseguiram os fósforos, que as minhas explicações têm sido orientadas para adicionar precauções  conscientes às proteções automáticas existentes. 

As observações acima se referem principalmente à técnica deste processo; e será um caminho muito longo  para lhe dizer que você deveria ser capaz de operar com os princípios oriundos do seu conhecimento geral  sobre a Magia(k), mas especialmente a Fórmula do Tetragrammaton, claramente declarada e explicada em Magick, Capítulo III. Combine isto com a essência do Capítulo XII e você terá conseguido! 

Mas há outro ponto nesta questão. Neste, incidentalmente, é onde entram as “proteções automáticas”. “...tu  não tens direito a não ser fazer a tua vontade.” (AL, I:42) significa que os propósitos de “se lançar  ansiosamente atrás do desconhecido” podem ser simplesmente desastrosos. É possível, na química,  provocar uma reação endotérmica; mas isto é apenas buscar por problemas. O produto carrega na sua  essência a semente da dissolução. Consequentemente, o ato preliminar mais importante em qualquer  operação Mágica é se assegurar de que seu objetivo não é somente harmonioso, mas necessário, à sua  Grande Obra. 

Observe também que o uso deste método supremo envolve a manipulação de energias inefavelmente  secretas e muito delicadamente sensíveis; ela se compara com as operações da Magia ordinária, pois a  última palavra na artilharia é a do bacamarte! 

Eu deveria ter mencionado o instinto ou impulso sexual em si mesmo, sem me importar com as  considerações mágicas ou quaisquer outras, sejam quais forem: a coisa que lhe toma pela nuca, corta a sua  garganta como um sabre de cavalaria, e lança os restos ao precipício mais próximo. 

O que é essa coisa maldita, enfim? 

Esta é justamente a questão; pois ela é a primeira das máscaras sobre a face da Verdadeira Vontade; e  aquela máscara é a cara de blefe! 

Como toda Arte verdadeira é espontânea, é talento, ela está completamente além de todo conhecimento ou  controle consciente2, assim também é o sexo. De fato, alguém poderia classificá-lo ainda mais  profundamente do que qualquer Arte; pois a Arte pelo menos se esforça para encontrar um meio inteligível  de expressão. Ela está muito mais próxima da sanidade do que o desejo cego do impulso sexual. O gênio  mais louco observa a partir de Chokmah não apenas para Binah, mas para o fruto daquela união em Da’ath e  a Ruach; o impulso sexual não tem mais utilidade para Binah compreender, interpretar, transmitir. Ele quer nada mais do que um instrumento que o destruirá. 

“Aqui eu digo, Mestre, tenha um coração!” 

Insensatez! (eu continuo) O que eu digo é o simples fato, e você o sabe muito bem! Mais, amaldiçoado,  escondido, distorcido e torturado como tem sido pela religião e pela moralidade e todo o resto disso, ele e prendeu a se disfarçar, a aparecer numa miríade de formas de psicose, neurose, verdadeira insanidade dos  tipos mais perigosos. Você não precisa procurar mais além de Hitler! Seu poder e seu perigo derivam  diretamente da realidade fatal de que, em si mesmo, ele é a Verdadeira Vontade na sua forma mais pura. Qual é então o remédio mágico? Óbvio o suficiente para o Qabalista. “Amor é a lei, amor sob vontade”. Ele  deve estar ajustado às suas primeiras manifestações com sua própria Binah, de modo a fluir livremente ao  longo do Caminho de Daleth, e restaurar o Equilíbrio perdido. As tentativas de suprimi-lo são fatais, sublimá-lo é falso e fútil. Porém guiado sabiamente desde o início, com o tempo ele se torna forte e aprende  como usar suas virtudes tirando o máximo de vantagem. 

E quanto ao instinto paralelo em uma mulher? Exceto em casos (muito raros) de doença ou deformidade  congênita, o problema nunca é tão agudo. 

Para Binah, mesmo enquanto ela pisca um olho para Chokmah, mantém o outro olho bem aberto, virado  para Tiphareth. Sua Verdadeira Vontade é, portanto, dividida por Natureza desde o início3, e sua tragédia é se ela falhar em unir estes dois objetos. Ó, meu Deus, sim, eu sei tudo sobre “spretæ injuria formæ” e  “furens quid femina possit”; mas isso é apenas porque quando erra sua mordida ela se sente duplamente  perplexa, roubada não apenas do Presente extático, mas também do Futuro glamoroso. Se ela comer do  Fruto da Árvore da Vida independentemente do fato de não estar maduro, ela não apenas sentirá um gosto  ruim na boca, mas também terá uma indigestão em seguida. Então, vivendo como tanto ela o faz no mundo  da imaginação, vivenciando constantemente imagens das sombras do seu Desejo, ela não está tão suscetível  às violentas insanidades de puro desejo cego, como no caso do homem. A diferença essencial é indicada por  aquilo relacionado aos seus respectivos orgasmos, os femininos sendo ondulatórios, os masculinos sendo  catastróficos. 

O quanto acima, tomado em sua integridade, pode não ser completamente abrangente, não totalmente  satisfatório para a alma, mas cada coisa por sua vez, é suficiente para uma vaca seguir ruminando. 

Boa noite! 

Amor é a lei, amor sob vontade. 

Fraternalmente, 

666 


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