Monday, December 2, 2024

O DEVER

 

DEVER 

por Aleister Crowley 

UMA NOTA SOBRE AS REGRAS PRINCIPAIS DE CONDUTA PRÁTICA A SEREM OBSERVADAS POR AQUELES QUE ACEITAM A LEI DE THELEMA




  

“Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.”1 I:40 “Não existe lei além de Faze o que tu queres.” III:60 


“...tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faze isso, e nenhum outro te dirá  não. Pois pura vontade, desaliviada de propósito, livre da ânsia de resultado, é todo  caminho perfeito.”  

I:42-44 


“Amor é a lei, amor sob vontade.” I:57 “Todo homem e toda mulher é uma estrela.” I:3 

A. Seu dever para consigo mesmo. 

1. Descubra-se como sendo o centro do seu próprio Universo. 

“Eu sou a chama que arde em cada coração de homem, e o núcleo de cada estrela.” II:6   

2. Explore a Natureza e os  Poderes do seu próprio  Ser. 

3. Desenvolva na devida  harmonia e proporção  toda faculdade que você  possui. 

Isso inclui tudo o que é, ou possa ser, para você: e você deve  aceitar tudo exatamente como é por si mesmo, como um dos  fatores que vão compor o seu Ser Verdadeiro. Este Ser  Verdadeiro finalmente inclui todas as coisas; sua descoberta é  Iniciação (a viagem para dentro) e como a sua Natureza é de se  mover continuamente, ela deve ser compreendida não como  estática, mas como dinâmica, não como um Substantivo, mas  como um Verbo. 

II:70 

“Sabedoria diz: sê forte! Então tu poderás suportar mais prazer. Não sejas animal;  refina o teu êxtase! Se beberes, bebe pelas oito e noventa regras da arte: se tu amas,  excede por delicadeza; e se tu fazes qualquer coisa prazerosa, que haja sutileza ali!” 

“Mas excede! excede!” II:71 

II:22 

“Sê forte, ó homem! desejai, desfrutai de todas as coisas de sentido e êxtase: não  temais que qualquer Deus te negue por isto.” 


4. Contemplai a sua própria  Natureza. 

5. Descubra a fórmula  deste propósito, ou “Verdadeira Vontade”,  em uma expressão tão  simples quanto possível. 

6. Estenda o domínio da  sua consciência, e seu  controle de todas as forças alheias a ela, ao  máximo. 

Considerai todo elemento desta tanto separadamente quanto em  relação com todo o resto para julgar precisamente o verdadeiro  propósito da totalidade do seu Ser. 

Aprenda a compreender claramente o melhor modo de  manipular as energias que você controla para obter os  resultados mais favoráveis para ela a partir das suas relações  com a parte do Universo que você ainda não controla. 

Faze isto por meio da aplicação mais forte e mais habilidosa  das suas faculdades até a percepção mais fina, mais clara, mais  plena e mais exata, o melhor entendimento e o controle mais  sabiamente organizado, daquele Universo externo. 

7. Jamais permita que o  pensamento ou a vontade  de qualquer outro Ser interfira na sua própria. 

8. Não reprimas ou restrinjas qualquer instinto verdadeiro da sua Natureza; porém devotes tudo em perfeição ao serviço exclusivo da sua única Verdadeira Vontade

Sede constantemente vigilante para ressentir e alerta para  resistir, com ardor invencível e veemência de paixão insaciável,  a toda tentativa, por parte de qualquer outro Ser, de vos  influenciar ao invés de contribuir com novos fatos para a sua  experiência do Universo, ou vos ajudando a alcançar uma  síntese maior de Verdade através do modo de fusão apaixonada. 

“Sejais graciosos portanto: vesti-vos todos em finos trajes; comeis ricas comidas e  bebeis vinhos doces e vinhos que espumam! Também, tomai vossa fartura e vontade de  amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre a mim.” 

“A palavra de Pecado é Restrição. Ó homem! Não recuseis tua esposa, se ela o quiser!  Ó amante, se quereis, ide embora! Não há vínculo que possa unir o dividido senão o  amor: tudo o mais é uma maldição. Maldito! Maldito seja pelos aeons! Inferno!” 

“Assim com todos vós; tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faze isso, e  nenhum outro te dirá não. Pois pura vontade, desaliviada de propósito, livre da ânsia de  resultado, é todo caminho perfeito.” 

“Vós devereis reunir bens e fartura de mulheres e especiarias; vós vestireis ricas joias;  vós excedereis as nações da terra em esplendor e orgulho; mas sempre no amor de mim  e então vós vireis ao meu prazer.” 

9. Regozija! 

“Lembrai todos vós que a existência é puro prazer; que todas as tristezas são nada mais  que sombras; elas passam e pronto; mas existe aquilo que permanece.” 

“Porém vós, ó meu povo, erguei-vos e despertai! Que os rituais sejam corretamente  conduzidos com prazer e beleza!” ... “Uma festa para o fogo e uma festa para a água; uma festa para a vida e uma festa ainda maior para a morte! Uma festa todo dia em  vossos corações no prazer do meu êxtase! Uma festa toda noite para Nu, e o prazer de  extremo deleite! Sim! festejai! alegrai-vos! não há pavor no porvir. Existe a dissolução,  e o eterno êxtase nos beijos de Nu.” 

“Agora regozija! agora vem em nosso esplendor e êxtase! Vem em nossa paz  apaixonada, e escreve doces palavras aos Reis!” 

“Vibrai com o prazer de vida e da morte! Ah! tua morte será adorável: todo aquele que  a vir ficará alegre. Tua morte será o selo da promessa do nosso antigo amor. Vem!  eleva o teu coração e regozija!” 

“Deve um Deus viver em um cão? Não! porém os mais elevados são de nós. Eles  regozijarão, os nossos escolhidos: quem se lamenta não é de nós. Beleza e força,  gargalhada vibrante e leveza deliciosa, força e fogo, são de nós.” 

B. Seu dever para com outros indivíduos, homens e mulheres. 

1. “Amor é a lei, amor sob vontade.” 

“Avançai, ó crianças, sob as estrelas, e tomai a vossa plenitude de amor.” I:12 

Uni-vos apaixonadamente com todas as outras formas de  

consciência, assim destruindo a sensação de separação do Todo,  

e criando um novo patamar no Universo a partir do qual possa  

medi-lo. 

2. “Como irmãos lutai!” III:59 “Se ele é um Rei, tu não podes feri-lo.” II:59 

Salientar as diferenças entre dois pontos de vista é útil para ambos ao medir a posição de cada um no todo. O combate 

3. Abstenha-se de todas as  interferências com as vontades dos outros. 

estimula a energia viril ou criativa; e, como o amor, do qual  este é um aspecto, excita e mente para um orgasmo que a  possibilita transcender seu embotamento racional. 


“Cuidai para que nenhum force ao outro, Rei contra Rei!” II:24 

(O amor e a guerra nas prescrições anteriores são da natureza  

do esporte, onde se respeita e se aprende com o oponente, mas  

nunca se interfere com ele, fora do jogo real.). Tentar dominar  

ou influenciar o outro é tentar deformá-lo ou destruí-lo; e ele é  

uma parte necessária do próprio Universo da pessoa, ou seja, do  

ser desta pessoa. 


4. Buscai, se assim o  desejares, iluminar o  outro quando surgir à  necessidade. 

5. Adorai a todos! 

Isto pode ser feito, sempre com o mais estrito respeito quanto à  atitude do bom esportista, quando estiver angustiado por ter  falhado em compreendê-lo claramente, em especial quando ele  pede particularmente por ajuda; pois a ignorância dele pode  estar ocultando a percepção de sua perfeição. (Ainda assim  também a ignorância pode servir como um aviso, ou poderá  excitar o interesse da pessoa). Isso também é válido quando  sua ignorância o levou a interferir com a vontade de uma  pessoa. Toda interferência é perigosa em qualquer caso, e exige  o exercício de extrema habilidade e um bom julgamento,  fortalecido pela experiência. Influenciar o outro é deixar a  fortaleza da pessoa desprotegida; e a tentativa geralmente  termina na perda da própria auto supremacia da pessoa. 


“Todo homem e toda mulher é uma estrela.” I:3 “Que não haja piedade: malditos sejam aqueles que se apiedam!” III:18 

II:21

“Nós não temos nada a ver com o proscrito e o incapaz: que eles morram na sua  miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: dominai o miserável e o  fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo. Não pensai, ó rei, sobre aquela mentira: Que Tu Deves Morrer: verdadeiramente tu não morrerás, mas  viverás. Então que isto seja entendido: Se o corpo do Rei se dissolver, ele permanecerá  em puro êxtase para sempre. Nuit! Hadit! Ra-Hoor-Khuit! O Sol, Força e Visão, Luz;  estes são para os servidores da Estrela e da Cobra.” 

Cada ser é exatamente como você, o único centro de um  

Universo de modo nenhum idêntico, ou mesmo semelhante, ao  

seu próprio. O Universo impessoal da "Natureza” é apenas uma  

abstração, aproximadamente verdadeira, dos fatores que são  

convenientemente considerados comuns para todos. O Universo  

do outro é, portanto, necessariamente desconhecido e  

desconhecível para você; mas ele induz correntes de energia no  

seu ao determinar em parte as suas reações. Use homens e  

mulheres, portanto, com o absoluto e devido respeito aos  

padrões invioláveis de medida; verifique suas próprias  

observações pela comparação com julgamentos similares feitos  

por eles; e, estudando os métodos que determinam suas falhas  

ou sucessos, adquira por si mesmo a perspicácia e a habilidade  

exigidas para lidar com os seus próprios problemas. 

Pena, compaixão e emoções semelhantes são  

fundamentalmente insultos à Divindade da pessoa que as  

provoca e, portanto, também o são para a sua própria  

Divindade. A aflição do outro pode ser aliviada; mas sempre  

com a ideia positiva e nobre de fazer manifestar a perfeição do  

Universo. Pena é a fonte de todo vício desprezível, ignóbil e  

covarde; e é a blasfêmia essencial contra a Verdade. 

III:62 

“Fazei a Mim a vossa reverência! vinde vós a mim através da tribulação do ordálio que  é êxtase.” 

C. Seu dever para com a humanidade. 


1. Estabelecei a Lei de  Thelema como a única  base de conduta. 

Sendo o bem estar geral da raça necessariamente em muitos  aspectos o seu próprio, este bem estar, como o seu próprio,  sendo principalmente uma função da observância inteligente e  sábia da Lei de Thelema, é da mais alta importância para você 

que todo indivíduo deva aceitar honestamente aquela Lei, e  

discipline a si mesmo estritamente em total acordo com esta. 

Você pode considerar o estabelecimento da Lei de Thelema  

como um elemento essencial da sua Verdadeira Vontade, desde  

que, a natureza final daquela Vontade, a condição evidente para  

colocá-la em execução seja a libertação da interferência  

externa. 

Os governos muitas vezes exibem a mais deplorável estupidez,  

por mais iluminados que sejam os homens que o compõe e  

constituem, ou as pessoas a cujos destinos eles se dirigem.  

Portanto é incumbência de todo homem e toda mulher dar os  

passos adequados para obrigar as revisões de todos os estatutos  

existentes com base na Lei de Thelema. Sendo esta Lei uma Lei  

de Liberdade, o objetivo da legislação deverá ser o de garantir a  

mais ampla liberdade para cada indivíduo no estado, abstendo 

se o pressuposto da hipótese de que qualquer ideal positivo é  

digno de ser obtido. 

“A palavra de Pecado é Restrição.” I:41 

A essência do crime é que ela restringe a liberdade do indivíduo  

injuriado. (Logo, o assassinato restringe seu direito de viver; o  

roubo, seu direito de usufruir os frutos do seu trabalho;  

falsificação, seu direito à garantia do estado que ele vai  

permutar por seguridade; etc.) Então é dever comum evitar o  

crime isolando o criminoso, e devido à ameaça de represálias;  

também, ensinar ao criminoso que os seus atos, sendo  

analisados, são contrários à sua própria Verdadeira Vontade.  

(Isso muitas vezes pode ser conseguido ao privá-lo do direito  

que ele negou aos outros; banindo-o, de modo que ele sinta  

constante ansiedade quanto à segurança das suas próprias  

posses, removidas da proteção do Estado.) A regra é muito  

simples. Aquele que violou qualquer direito declara  

magicamente que ele não existe; desse modo ele não mais  

existe, para ele. 

Sendo o crime uma violação espiritual direta da Lei de  

Thelema, ele não pode ser tolerado na comunidade. Aqueles  

que possuem este instinto devem ser segregados em uma  

colônia a fim de criarem seu próprio estado, para que possam 

desse modo aprender a necessidade de imporem a si mesmos e  

manterem regras de justiça. Todos os crimes artificiais devem  

ser abolidos. Quando as restrições cruciais desaparecerem, a  

liberdade maior da própria vontade individual o ensinará a  

evitar atos que realmente restrinjam os direitos naturais. Assim,  

o crime real diminuirá automaticamente. 

A administração da Lei deve ser simplificada pelo treinamento  

de homens de retidão e discrição cuja vontade seja o  

cumprimento desta função na comunidade a fim de decidir  

sobre todas as reclamações por meio do princípio abstrato da  

Lei de Thelema, e arbitrar julgamento com base na verdadeira  

restrição causada pelo crime. 

O objetivo final é, portanto, reintegrar a Consciência, segundo  

os princípios científicos autênticos, como os guardiões da  

conduta, o monitor do povo, e a garantia dos seus governantes. 

D. Seu dever para com todos os outros seres e coisas. É uma violação da Lei de Thelema abusar das qualidades  

1. Aplique a Lei de Thelema para todos os  problemas e oportunidades, usos e  desenvolvimento naturais de qualquer animal ou objeto ao desviá-lo de sua  função apropriada, tal como determinado pela consideração da  sua história e estrutura. Então, treinar crianças para realizarem  operações mentais ou praticar tarefas para as quais elas estejam  incapacitadas, é um crime contra a natureza. Similarmente,  construir casas com material estragado, adulterar alimentos,  destruir florestas, etc., etc., é uma ofensa. A Lei de Thelema  deve ser aplicada resolutamente para decidir toda questão de  conduta. A capacidade inerente de qualquer coisa para qualquer  uso proposto deve ser o único critério. 

A Lei de Thelema deve ser aplicada resolutamente para decidir  toda questão de conduta. A capacidade inerente de qualquer  coisa para qualquer uso proposto deve ser o único critério.

Conflitos aparentes, e algumas vezes até mesmo reais, entre  

interesses vão surgir frequentemente. Tais casos devem ser  

decididos através do valor geral das partes rivais na escala da  

Natureza. Assim, uma árvore tem o direito à sua vida; mas um  

homem sendo mais do que uma árvore, pode cortá-la para uso  

como combustível ou para construir abrigo sempre que surgir a  

necessidade. Mesmo assim, que ele se lembre que a Lei nunca  

falha em se vingar da infração: como quando o  

desflorestamento injustificado arruinou um clima ou um solo,  

ou como quando a importação de coelhos para um suprimento  

barato de comida provocou uma praga. 

Observe que a violação da Lei de Thelema produz males  

cumulativos. O fluxo da população agrícola para as grandes  

cidades, principalmente devido ao fato de terem sido  

persuadidos a abandonar seus ideais naturais, não apenas tornou  

o campo menos tolerável para o camponês, mas corrompeu a  

cidade. E o erro tende a aumentar em progressão geométrica,  

até que alguma solução se torne quase inconcebível e toda a  

estrutura da sociedade seja ameaçada com a ruína.2 

A aplicação sábia baseada na observação e na experiência da  

Lei de Thelema deverá operar em harmonia consciente com a  

Evolução. Experimentos na criação, envolvendo variações a  

partir de tipos existentes, são válidos e necessários. Seu valor  

será julgado pela sua fertilidade como que prestando  

testemunho à sua harmonia com o curso da natureza rumo à  

perfeição. 

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