DAS CONSAGRAÇÕES:
COM UM TRATADO DA NATUREZA
E DA CRIAÇÃO DO ELO MÁGICO
por Aleister Crowley
I
Consagração é a dedicação ativa de algo para um propósito único. Um banimento impede o seu uso para qualquer outro propósito, mas permanecerá inerte até ser consagrado. A purificação é feita pela água e o banimento pelo ar cuja arma é a espada. A consagração é feita pelo fogo simbolizado, normalmente, pela lâmpada sagrada.
Na maioria dos rituais as duas operações são realizadas de uma vez, ou (pelo menos) o banimento possui uma importância maior e as maiores dores parecem que são extirpadas com ele; mas à medida que o estu dante avança em direção ao Adeptado, os banimentos diminuem em importância, pois passam a ser desne cessários. O Círculo do Magista aperfeiçoa-se por conta do constante trabalho Mágico. No real sentido dessa palavra, ele nunca sairá do Círculo durante toda a sua vida. Mas a consagração, sendo a aplicação de uma força positiva, pode sempre ser trabalhada até se aproximar da perfeição. O sucesso completo em banimento logo é atingido, mas não pode existir perfeição no caminho para a santidade.
O método de consagração é muito simples: pegue o bastão ou o óleo santo e desenhe o símbolo supremo da força a qual você dedicará no objeto a ser consagrado. Confirmando essa dedicação em palavras, invocando o Deus apropriado para habitar o templo puro que você preparou para Ele. Faça isso com fervor e amor co mo se fosse equilibrar o desprendimento do gelo, sendo a atitude mental apropriada para banir.
As palavras de purificação são: Asperges me, Therion, hyssopo, et mundabor; lavabis me, et super nivem dealbabor.
As da consagração: Accendat in nobis Therion ignem sui amoris et flammam æternæ caritatis Como os iniciados do VIIº O.T.O. estão cientes, significa mais do que aparenta.
II
É estranho que nenhum escritor de Magia tenha tratado de um assunto tão importante quanto o Elo Mágico. Poderia até ser chamado de Elo Perdido. Aparentemente foi tido como já conhecido e só escritores leigos em Magia como o Dr. J. G. Frazer perceberam a vital importância do tema.
Vamos considerar a natureza da Magia sob um espírito científico e, se pudermos, desconsiderando as orien tações mais antigas sobre ela.
O que é uma Operação Mágica? Ela pode ser definida como qualquer evento na natureza causado pela Von tade. Não devemos excluir o crescimento da batata ou transações bancárias dessa definição.
Um exemplo simples de Ato Mágico: um homem assoar o seu nariz. Quais as condições para o sucesso da Operação? Primeiro: que a Vontade do homem seja de assoar o nariz; segundo, que ele tenha um nariz capaz de ser assoado; terceiro, que ele tenha o domínio de um aparato capaz de expressar a sua Vontade espiritual em termos de força material e aplicar tal força ao objeto que ele quer afetar. A sua Vontade deve ser tão for
te e focada quanto a de Júpiter e que o seu nariz seja incapaz de resistir; porém, a menos que elo seja estabe lecido via a utilização dos seus nervos e músculos de acordo com as leis psicológicas e físicas, o nariz per manecerá como está por toda a eternidade.
Escritores de Magia tem sido implacáveis em seus esforços para nos ensinar a preparação da Vontade, mas parecem ter considerado que nenhuma precaução adicional fosse necessária. Existe um caso marcante de uma epidemia de tais erros cuja história é familiar a todos. Refiro-me à Ciência Cristã e às doutrinas relacio nadas de “curas mentais” e semelhantes. A teoria deles, despojada dos floreios dogmáticos, é boa Magia, do seu tipo característico negroide. A ideia está até correta: a matéria é uma ilusão criada pela Vontade através da mente e, consequentemente, suscetível às ordens do seu criador. Mas a prática é falha. Eles não desen volveram uma técnica científica para aplicação da Vontade. Seria como esperar que pessoas fossem trans portadas pelo vapor caldeira de Watt sem as locomotivas.
Vamos aplicar essas considerações sobre Magia no sentido restrito que sempre foi compreendido até Mestre Therion5ampliá-lo para cobrir todas as operações da Natureza.
Qual a teoria implícita em rituais como os da Goetia? O que o Magista faz? Ele invoca um Deus e esse Deus leva à aparição de um espírito cuja função é realizar a Vontade do magista naquele momento. Não existe qualquer sinal do que poderia ser chamado de mecanismo no método. O exorcista dificilmente assume as dores da preparação de uma base material para o espírito encarnar salvo uma conexão de si mesmo com o sigilo. Ele, aparentemente, presumiu que o espírito já possuía os meios de funcionar na matéria. A concepção assemelha-se a de um garoto pedindo ao seu pai para ordenar o mordomo a fazer alguma coisa. Em ou tras palavras: a teoria é totalmente anímica. As tribos selvagens descritas por Frazer possuem uma aborda gem muito mais científica. O mesmo pode ser dito das bruxas que pareciam ser mais sábias do que os tau maturgos que as desprezaram. Elas, pelo menos, fizeram imagens de cera – identificadas pela consagração – das pessoas que desejavam controlar. Elas, ao menos, se valeram das bases apropriadas para manifestações Mágicas tais como sangue e outros veículos de força animal junto com vegetais apropriados tais como ervas. E também foram cuidadosas em colocar seus itens enfeitiçados em contato real – material ou astral – com suas vítimas. Oposto a isso, existem os exorcismos clássicos que, a despeito de tudo o que aprenderam, carecem desse requisito básico. Agem como imbecis que escrevem cartas, mas não as postam.
Nunca é demais dizer que essa falha em compreender as condições de sucesso contribuiu para o descrédito em Magia até Eliphas Levi assumir a tarefa de reabilita-la há duas gerações. Mas até ele (que considerou a Magia como uma fórmula universal expondo luminosamente seus estudos profundos) não deu atenção à questão do Elo Mágico apesar de ter afirmado em vários lugares que ela era essencial ao Trabalho. Ele fugiu da questão fazendo o petitio principio da Luz Astral atribuindo a ela o poder de transmitir todos os tipos de vibrações. Em lugar nenhum ele entra em detalhes de como os efeitos são produzidos. Ele não nos informa das leis qualitativas e quantitativas da sua Luz (o estudante treinado cientificamente perceberá a analogia entre o postulado de Levi e o da ciência comum in re7no éter luminífero).
É deplorável que ninguém tenha registrado de forma sistemática os resultados de nossas investigações da Luz Astral. Não temos tratados das propriedades ou das leis nessa esfera; ainda que fossem suficientemente marcantes. Podemos afirmar vagamente que, na Luz Astral, dois ou mais objetos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo sem interferência entre si e perder suas formas.
Nesta Luz, objetos podem mudar as suas aparências totalmente sem que suas Naturezas sejam afetadas. Uma mesma coisa pode revelar-se em um número infinito de aspectos; de fato, ela se caracteriza por fazer isso, da mesma forma que um escritor ou um pintor mostra-se numa sucessão de novelas ou pinturas, cada uma sen do completa em si mesma, mas sendo ele mesmo em diversas formas, embora cada uma pareça completa mente distinta aos seus amigos. Nela pode-se “voar sem asas e ser veloz sem os pés”; pode-se viajar sem movimento e comunicar-se sem utilizar os meios mais comuns de expressão. Tornam-se insensível ao calor, frio, dor e outras formas de percepção, ao menos do jeito que são familiares a nós via o nosso corpo. Os ob jetos existem, porém são percebidos por nós e nos afetam, mas de maneira diferente. Na Luz Astral estamos presos ao que é, superficialmente, uma série totalmente diferente de leis. Deparamo-nos com obstáculo de um tipo estranho e sutil e podemos supera-los através de uma energia e astúcia muito diferentes das que nos servem na vida terrestre. Na Luz Astral os símbolos não são convenções, mas realidade ainda que os seres que encontramos nela – ao contrário – sejam símbolos das realidades da nossa própria natureza. Nossas ope rações nessa Luz são, de fato, aventuras de nossos próprios pensamentos personificados. O universo é uma projeção de nós mesmos, uma imagem tão irreal quanto nossos rostos num espelho – a forma necessária de expressão – ainda que o rosto não mude a menos que o façamos.8 O espelho pode ser distorcido, embaçado, mal feito ou estar rachado sendo assim o nosso reflexo falso para a nossa própria representação simbólica. Nessa Luz, porém, tudo o que fazemos é descobrir a nós mesmos por uma serie de hieróglifos e as mudanças que aparentemente operamos são ilusões num sentido objetivo.
Porém a Luz nos serve dessa maneira, ela nos capacita a nos vermos e nos ajuda mostrando o que estamos fazendo. Da mesma forma que um relojoeiro usa lentes que ampliam e, por consequência, falseiam a ima gem dos componentes que ele está consertando. Igual, também, a um escritor que emprega caracteres arbi trários seguindo certas convenções para capacitar o leitor a aproximar-se das suas ideias.
Essas são algumas das principais características da Luz Astral. A suas leis quantitativas diferem pouco da quelas da física material. Magistas tem sido frequentemente tolos em supor que todos os tipos de Operações Mágicas são igualmente fáceis. Eles parecem ter assumido que o “grande poder de Deus” é infinito onde todos os finitos são insignificantes. “Um dia para o Senhor é mil anos” é a primeira de suas leis de Movi mento. “A fé move montanhas” eles dizem e desdenhando a medida da fé ou das montanhas. Se você mata uma galinha utilizando Magia, por que não destruir um exército da mesma maneira? “Com Deus todas as coisas são possíveis”.
Este absurdo é um erro do mesmo tipo daquele mencionada anteriormente. Os fatos são completamente opostos. Dois e dois fazem quatro no Astral da mesma forma que em qualquer outro lugar. A distância do alvo Mágico e a precisão do rifle Mágico são fatores no sucesso do tiro Mágico na mesma forma que em Bisley. A lei da gravitação Mágica é tão rígida quanto à de Newton. A lei dos Quadrados Inversos pode não se aplicar, mas alguma lei sim. Isso é para tudo. Você não pode produzir uma tempestade a meemos que o material exista no ar naquele momento e um Magista que pudesse fazer chover em Cumberland falharia la
mentavelmente no Saara. Pode-se fazer um talismã para conseguir o amor de uma vendedora e funcionar, mas falhar no caso de uma condessa – ou vice versa. Pode-se impor a Vontade numa fazenda e ser esmagado pela de uma cidade – ou vice versa. O MESTRE THERION, com todo o seu sucesso em todos os tipos de Magia, às vezes mostra-se impotente na realização de façanhas que qualquer amador seria capaz de fazer, porque ele colocou a sua Vontade contra a do mundo tendo realizado a Tarefa de um Magus que é estabele
cer a palavra da Sua Lei no todo da humanidade. Ele conseguiu, sem dúvida, mas Ele dificilmente espera ver mais do que um lampejo do Seu produto durante a Sua presente encarnação. Mas Ele se recusa a empregar, por menor que seja, uma fração da Sua força em trabalhos estranhos à sua OBRA, embora possa parecer óbvio ao espectador que a sua Virtude esteja em transformar pedras em pães ou qualquer outra forma de facilitar as coisas para Si.
Estando tais considerações bem compreendidas podemos retornar à questão de estabelecer um Elo Mágico. No caso supracitado, FRATER PERDURABO confeccionou o Seu talismã para invocar o Seu Sagrado Anjo Guardião de acordo com a Magia Sagrada de Abramelim, O Mago. O Anjo escreveu no lâmem a Palavra do Æon. O Livro da Lei é este escrito. A este lâmem o Mestre Therion concedeu vida pela devoção da Sua própria a ele. Sendo assim, podemos considerar esse talismã, a Lei, como o mais poderoso já feito na histó ria, pois aqueles anteriores, do mesmo tipo, tinham o escopo limitado pelas condições da raça e do país. O talismã de Maomé, Allah, foi bom apenas da Pérsia aos Pilares de Hércules. O de Buda, Anatta, operou ape nas no Sul e no Leste da Ásia. O novo talismã, Thelema, é o mestre deste planeta.
Veja agora como a questão do Elo Mágico aparece! Não importa quão poderosa seja a verdade de Thelema, ela não pode prevalecer a menos que seja aplicada a qualquer um pela humanidade. Enquanto o Livro da Lei permanecesse um Manuscrito, ele afetaria o pequeno grupo onde circulava. Ele teve que ser colocado em ação pela a Operação Mágica da publicação. Quando foi feito, não aconteceu da forma adequada. Suas de terminações de como fazer não foram totalmente seguidas. Houve dúvida e rejeição na mente de FRATER PERDURABO que dificultaram o trabalho. Ele estava indiferente, mas, ainda assim, o poder intrínseco da verdade da Lei e o impacto da publicação foram suficientes para abalar o mundo de tal maneira que uma guerra aconteceu e as mentes dos homens foram mexidas de um jeito misterioso. A segunda onda veio pela republicarão do Livro em Setembro de 1913 e, desta vez, o poder dessa Magia irrompeu e causou uma catás trofe na civilização. Nessa hora o MESTRE THERION estava oculto, reunindo suas forças para a onda final. Quando o Livro da Lei e seus Comentários foram publicados, com as forças de toda a Sua Vontade em per feita obediência às instruções que foram negligenciadas o resultado foi incomensuravelmente mais efetivo. O evento estabelecerá o reino da Criança Coroada e Conquistadora em todo o planeta e todos os homens curvar-se-ão à Lei, que é “sob vontade”.
Este é um caso extremo, mas existe uma lei apenas para governar tanto o pequeno quanto o grande. As mesmas leis descrevem e medem os movimentos da formiga e das estrelas. A luz delas não mais rápida do que a de uma centelha. Em toda operação de Magia o elo deverá ser estabelecido corretamente. O primeiro requisito é a aquisição da força adequada do tipo necessário ao propósito. Devemos ter eletricidade em certo
potencial na quantidade suficiente que desejamos para esquentar comida num forno. Necessitamos de mais energia para abastecer uma cidade do que para ser utilizada num telefone. Nenhum outro tipo de força servi rá. Não podemos usar a força do vapor para impulsionar um avião ou nos embebedar. Devemos aplicá-la na intensidade adequada da maneira correta.
Assim é um absurdo invocar o espírito de Vênus para conseguir o amor de uma Imperatriz, a menos que tomemos medidas para transmitir a influência da operação para a tal senhora. Por exemplo, podemos consa grar uma carta expressando a nossa Vontade ou se soubermos como, usar algum objeto relacionado à pessoa que objetivamos controlar, como uma mecha de cabelo ou um lenço estando numa sutil conexão com a aura dela. Mas para fins materiais é melhor possuir meios materiais. Não devemos confiar em linha fina para pes car salmão. A nossa vontade de matar um tigre é mal conduzida por um tiro de calibre pequeno a uns cem metros. O nosso talismã deve ser um objeto adequado para a natureza da nossa Operação e devemos ter meios para aplicar a força de um jeito que naturalmente incutirá obediência na parte da Natureza que estamos tentando mudar. Se alguém deseja a morte de um pecador, não basta odiá-lo, até mesmo se partirmos do princípio que as vibrações do pensamento sejam suficientemente poderosas para modificar a Luz Astral e impregnar a sua intenção de certa maneira, como acontece com os mais sensíveis. É muito mais efetivo usar a mente e músculos, alimentados pelo ódio, e fazer uma adaga e enfia-la no coração do inimigo. Deve-se fornecer ao ódio uma forma física da mesma ordem daquela usada pelo inimigo na sua manifestação. O espírito só pode entrar em contato com o seu próprio através dos meios dessa criação mágica de fantasmas, na mesma maneira, só pode-se comparar a mente de duas pessoas (uma parcela dela) expressando-as em algu ma forma como um jogo de xadrez. Não se pode usar peças de xadrez contra uma pessoa a menos que ela concorde em usa-las da mesma forma que o oponente. A mesa e os homens formam o Elo Mágico pelo qual se pode provar a força de um vencendo o outro. O jogo é um dispositivo pelo qual você força uma pessoa a entregar o seu rei, um ato físico que obedece a sua vontade, mesmo que ele seja o dobro do seu tamanho.
Esses princípios gerais deveriam capacitar o estudante a compreender a natureza do trabalho em se estabelecer um Elo Mágico. É impossível dar instruções detalhadas, pois cada caso necessita de considerações distintas. Às vezes é muito difícil conceber um método correto.
Lembre-se que Magia inclui todos os atos, sejam quais forem. Qualquer coisa pode servir como uma arma Mágica. Para impor a Vontade de alguém numa nação, o jornal pode ser o talismã, um triângulo de uma igreja ou um circulo de um Clube. Para conseguir uma mulher, um pantáculo pode ser um colar, para descobrir um tesouro, uma baqueta pode ser a caneta de um escritor ou o encantamento de uma canção popular.
Diversos fins, diversos meios; é importante lembrar a essência da operação, que ela será um sucesso tanto pela pureza da intensidade quanto por encarnar essa vontade num corpo apropriado para expressá-la, um corpo tal que o impacto da vontade na manifestação física da ideia causará a mudança fazendo com que aconteça o desejado. Por exemplo: é de a minha vontade tornar-me um médico famoso? Eu banirei todos os “espíritos hostis” tais como a preguiça, interesses outros e prazeres que atrapalhem o meu “círculo”, o hospital; eu consagro minhas “armas” (minhas habilidades) para estudar medicina, eu invoco os “Deuses” (autoridades médicas) estudando e obedecendo as suas leis contidas em seus livros. Eu incorporo as “Formulæ” (os meios que são causas e efeitos das doenças) num “Ritual” (a minha maneira particular de restringir a doença de acordo com a minha vontade). Eu persisto nessas conjurações ano após ano, fazendo os gestos Mágicos de cura até eu forçar a aparência visível do Espírito do Tempo e fazê-lo reconhecer-me como mes tre. Eu me valho dos meios apropriados na medida correta e aplicando da melhor forma aos meus propósitos projetando a minha ideia de ambição num curso de ação tal que induza em outros uma ideia que satisfaça a minha. Eu faço a minha Vontade se manifestar aos sentidos, sentidos estes que abalam as Vontades dos meus próximos; mente trabalhada na mente através da matéria.
Eu não “sentei e fiquei esperando” um título de médico, seja apenas desejando, seja por um “ato de fé” ou pedindo a Deus “para mexer no coração do Faraó” como os nossos falsos milagreiros de cunho místico, me dieval ou mental fizeram e ainda fazem, sendo eles confusos e sentimentais o suficientes para nos dizer o que fazer.
Algumas observações gerais no Elo Mágico podem estar corretas na ausência de detalhes; não se pode fazer um Manual de Como Cortejar com um tipo de Abre de Sésamo para cada Caverna de cada Ladrão, não mais do que se pode dar a um bandido uma pasta contendo todas as combinações existentes de todos os cofres do mundo. Mas podem-se apontar as diferentes formas de se fazer: pela lisonja, eloquência, algumas pela aparência ou classe social, também pela saúde, outras pelo ardor e pela via autoritária. Não podemos exaurir as combinações do Xadrez do Amor, mas podemos enumerar as jogadas principais: as flores, os chocolates, um jantar, um talão de cheques, um poema um passeio ao luar, uma certidão de casamento, o chicote e um voo.
O Elo Mágico pode ser classificado em três tipos principais na medida em que envolve: um plano e uma pessoa, a segunda, um plano e duas ou mais pessoas e a terceira, dois planos.
No primeiro tipo o mecanismo da Magia – o instrumento – já existe. Por exemplo: quero curar o meu corpo, aumentar a minha própria energia, desenvolver os meus poderes mentais ou inspirar a minha imaginação. Aqui o Exorcista e o Demônio já estão conectados, consciente e subconscientemente, por um bom sistema simbólico. A Vontade é fornecida pela Natureza com um aparato equipado adequadamente para transmitir e
executar suas ordens.
Basta inflamar a Vontade no tom necessário e dar as ordens; elas serão cumpridas imediatamente, a menos que – como em casos de doença – o aparato esteja danificado além de qualquer possibilidade de conserto pela arte da Natureza. Pode ser necessário em casos como esses a ajuda de “espíritos” internos através da “purificação” dos remédios e do “banimento” da dieta ou qualquer outro meio distinto.
Pelo menos não existe a necessidade de qualquer dispositivo especial ad hoc para efetuar o contato entre o Círculo e o Triângulo. Operações desse tipo são, portanto, muito bem sucedidas várias vezes mesmo quando o Magista possui pouco ou nenhum conhecimento técnico de Magia. Qualquer escroque pode “se recom por”, dedicar-se ao estudo, romper hábitos negativos ou vencer a covardia. Este tipo de trabalho, ainda que fácil, é o mais importante, pois envolve a iniciação em si no seu sentido mais elevado. Ela estende-se ao Absoluto em todas as dimensões, ela implica nas análises mais profundas e nas sínteses mais compreensí veis. Em um certo sentido é o único tipo de Magia necessária ou apropriada ao Adepto, pois ela inclui am bos o Conhecimento e a Conversação do Sagrado Anjo Guardião e a Aventura do Abismo.
O segundo tipo contém todas as operações pelas quais o Magista visa impor a sua Vontade em objetos fora do seu controle, mas por dentro dessas outras vontades que são simbolizadas através de um sistema similar ao dele próprio. Isto é, podem ser obrigados a satisfazer a Vontade naturalmente através de uma percepção semelhante a eles.
Assim, uma pessoa pode querer o conhecimento contido neste livro. Sem saber que tal livro exista pode-se induzir alguém que o conheça a dar-lhe um exemplar. A operação consistiria em inflamar a Vontade de pos suir o tal conhecimento ao ponto de devotar a vida inteira a isso, expressar essa vontade procurando pessoas que poderiam ajudar e impô-la mostrando o entusiasmo e seriedade necessários para que elas indiquem o livro ideal.
Parece muito simples? Esse lugar comum poderia ser, de fato, a maravilhosa Magia que assusta as pessoas? Sim, mesmo essa trivialidade é um exemplo de como a Magia funciona.
Mas a prática acima pode dar errado. Então se recorre à magia no sentido convencional do termo, através da construção e carregamento de um Pantáculo específico para o que se deseja; esse Pantáculo deve causar uma impressão tal na Luz Astral que as vibrações agiriam em alguma consciência alheia para restaurar o equilí brio trazendo o livro.
Imaginemos agora algo mais sério: suponha que eu queira conquistar uma mulher que não gosta de mim além de amar outro. Neste caso, não só a Vontade dela, mas também a do parceiro devem curvar-se à minha.
Não tenho controle direto sobre nenhum deles. Mas a minha Vontade se conecta com a dela por meio de nossas mentes, basta que eu faça a minha mente dominar a dela através dos meios de comunicação; a mente dela, assim, transmitirá a ideia para a própria Vontade que repetirá a decisão da mente e o seu corpo se ren derá a mim.
O Elo Mágico existe, sendo apenas uma instância mais complexa em oposição à simplicidade daquela do Primeiro Tipo.
Essa transmissão da Vontade possui várias formas de dar errado: um mau entendimento do assunto, um es tado de espírito negativo, eventos externos que interfiram, o tal amado dela pode ser melhor do que eu em Magia; a Operação em si pode agredir a natureza de muitas maneiras; pode haver uma incompatibilidade inconsciente entre mim e ela, eu me enganar achando que gostasse dela. Tais eventos bastam para estragar a operação, da mesma forma que nenhum esforço de Vontade poderá misturar óleo com água.
Eu posso fazer a coisa normalmente como cortejar, por exemplo, porém, magicamente, posso atacá-la via o astral enfraquecendo a sua aura de modo que ela não se relaciona bem como o namorado. A menos que des cubram a causa, pode acontecer uma briga e o Corpo de Luz dela, faminto e confuso, causar algum sofri mento permitindo-o ser dominado pelo Magista.
No tipo dois: eu gostaria de recuperar o meu relógio roubado na multidão.
Aqui eu não tenho como controlar os músculos que poderiam me devolver o relógio ou atuar na mente que os comanda. Não sou capaz nem mesmo de informar a minha mente dessa Vontade, pois eu não sei onde o objeto está. Mas eu sei que a mente do ladrão é basicamente igual à minha e posso tentar estabelecer um Elo Mágico com ela comunicando a perda na esperança de encontrar o relógio, tomando o cuidado de acalmá-lo prometendo imunidade e apelar para o motivo que o fez cometer o ato oferecendo uma recompensa. Tam
bém posso usar a fórmula inversa: encontrá-lo enviando “espíritos conhecidos” como a polícia e assim fazer o ladrão obedecer a minha vontade.11
Novamente, pode acontecer de um feiticeiro possuir um objeto que pertence magicamente a um milionário, como um contrato, por exemplo, que é tão parte dele quanto o próprio fígado; o feiticeiro pode, então, domi nar a vontade do homem através de intimidação. O seu poder de publicar o documento é tão efetivo quanto agredi-lo fisicamente.
Tais causas “naturais” podem ser transpostas em termos mais sutis, por exemplo: pode-se dominar outro homem, até mesmo um estranho, através de pura concentração da vontade, cerimonialmente ou, por outro lado, incrementando até atingir a força necessária. Mas, de um jeito ou de outro, essa vontade irá colidir com a da vítima; via os meios comuns de contato se possível, se não, atacando algum ponto sensível em seu subconsciente. Mas a vara mais moderna não vai pescar um peixe a menos que exista uma linha para uni-los. O Terceiro Tipo é caracterizado pela ausência de qualquer tipo de elo entre a Vontade do Magista e o con trole do objeto a ser afetado (O Segundo Tipo se parece com o Terceiro quando não existi quaisquer possibi lidades de abordar a vítima via meios normais, coisa que às vezes acontece).
Este tipo de operação necessita não apenas um imenso conhecimento de técnicas de Magia combinadas co mo um vigor e habilidade formidáveis, mas também de um grau Místico muito raro que, quando encontrado, geralmente se caracteriza por um desinteresse em assuntos relativos à Magia. Suponha que eu queira fazer uma tempestade. Esse evento está além do meu controle ou de qualquer outro homem, é inútil ocupar a men te com isso. A natureza é indiferente aos assuntos dos homens. Uma tempestade é causada por condições atmosféricas numa escala tão grande que os esforços de todos nós, vermes da Terra, mal dispersariam uma nuvem, mesmo se pudéssemos alcança-la. Como pode então um Magista, ele que, acima de todas as coisas, é um conhecedor da Natureza, promover um absurdo desses, do tipo usar o Martelo de Thor? A menos que seja simplesmente maluco, ele deve ser iniciado numa Verdade que transcende os fatos aparentes. Ele deve estar consciente que a natureza é um continuum, que a sua mente e o seu corpo são consubstanciais com a tempestade, são igualmente expressões da Existência Única, todos sendo da mesma ordem de artifícios onde o Absoluto aprecia-se. Ele deve, também, ter assimilado o fato que a Quantidade é apenas uma forma da Qualidade, que todas as coisas são formas da Substância Única, suas medidas são formas da relação entre elas. Ouro e chumbo não são simples letras, sem qualquer sentido em si mesmas ainda que indicando como escrever o Nome Único; a diferença entre o volume de uma montanha e o de um rato não passa de um méto do de diferencia-los, da mesma forma que a letra “m” não é maior do que a “i” em qualquer sentido real da palavra.
O nosso Magista, tendo isto em mente, provavelmente deixará as tempestades acumularem eletricidade e, se decidir (depois de tudo) alegrar o dia, ele fará o seguinte: quais elementos são necessários para as suas chu vas? Ele deve conseguir armazenar energia elétrica e o tipo certo de nuvem pode possuir. Ele tem que saber que a energia não virá para a terra de modo suave e silencioso. Ele deve gerar um estresse tão grande a ponto de se tornar intolerável e irromper explosivamente. Então ele, como um homem, não pode orar a Deus para que o faça, pois os Deuses não passam de nomes das forças da Natureza.
Mas, como um Místico, ele sabe que todas as coisas são espectros da Coisa Única e que elas podem ser tira das de um lugar e colocadas em outro. Sabe também que todas as coisas estão em si mesmo, que ele é Uno com Tudo. Assim, não existe impedimento teórico em converter a ilusão de um céu aberto em um tempestu oso. Por outro lado, ele está consciente, como um Magista, de que as ilusões são geridas pelas suas leis da natureza. Ele sabe que duas vezes dois são quatro, apesar de ambos, “dois” e “quatro”, serem apenas propri edades do Uno. Ele pode usar a identidade Mística em todas as coisas num certo sentido científico. É verda de que a experiência com céus abertos e tempestades prova que a sua natureza contém elementos relaciona dos com ambos, caso contrário eles não poderiam afetá-lo. Ele é o Microcosmo do seu próprio Macrocosmo, sendo ou não qualquer um ou outro além do conhecimento sobre eles. Ele deve despertar em si as ideias irmanadas à Tempestade, reuni-las em objetos da mesma natureza para uso em talismãs e energizá-los inten samente através de um cerimonial Mágico, isto é, insistindo na divindade deles, para que inflamem interna e externamente, através de suas ideias energizando os talismãs. Surge, assim, uma vibração vívida de alto po tencial num certo grupo de substâncias afins, e também as forças, se espalhando como ondas oriundas de uma pedra atirada num lago, subindo e descendo até que a perturbação seja compensada. Da mesma forma que um punhado de fanáticos, imersos na insanidade de uma verdade exagerada pode infectar todo um país durante um certo tempo inflamando os pensamentos de vizinhos, assim o Magista cria uma comoção pertur bando o equilibro de poder, ele transmite a sua vibração particular como um radialista faz com a onda de rádio, a relação com o níveis da onda determina a sintonização.
Na prática, o Magista deve “evocar os espíritos da tempestade” identificando-se com as ideias de que os fenômenos atmosféricos são expressões da mesma maneira que a sua humanidade é uma expressão de si; conseguindo isso, ele deve impor a sua Vontade sobre eles pela qualidade da superioridade da sua inteligên cia e a integração do seu propósito nos impulsos aleatórios e nas interações caóticas.
Toda a Magia demanda extrema precisão na prática. É verdade que os melhores rituais nos dão instruções de como escolher os nossos veículos da força. No 777 encontramos “correspondências” de vários tipos de seres com diversos tipos de operações; assim tomamos ciência das armas, joias, figuras, drogas, perfumes, nomes etc. para utilizar em qualquer trabalho. Mas sempre se presume que a força invocada é inteligente e compe
tente que ela irá dirigir-se como desejado sem delongas através desse método vibrações análogas.
A necessidade de cronometrar a força tem sido ignorada e assim, muitas operações, mesmo quando bem realizadas, tanto quanto as invocações, são tão inofensivas quanto acender pólvora molhada.
Mesmo que se presuma que a Vontade seja suficiente para determinar a direção e que evite a dispersão da força, não podemos estar seguros que ela agirá no objeto a menos que ele seja preparado previamente para recebê-la. O Elo deve ser perfeitamente estabelecido. O objeto deve possuir elementos simpáticos ao traba lho em questão. Não podemos transar com um tijolo ou fazer uma árvore entregar cartas.
Vimos que não podemos afetar nada externo a menos que o objeto esteja em nós de alguma forma. Fazendo em outro eu faço em mim mesmo. Se eu mato um homem eu destruo a minha vida na hora. Este é o signifi cado mágico da chamada “Regra de Ouro” que não deveria estar no imperativo, mas no indicativo. Cada vibração desperta outras do seu campo em particular.
Existe assim alguma justificativa na assertiva dos autores mais antigos de Magia de que o Elo está implícito e não necessita de atenção especial. Na prática não existe nada mais certo do que confirmar a vontade da pessoa em todos os planos possíveis. A cerimônia deve ser confinada na formalidade dos ritos mágicos. Não devemos negligenciar nenhum meio para o nosso fim, nem desprezar o nosso bom senso ou duvidar da nos
sa sabedoria secreta.
Quando Frater I.A. estava em risco de morte no ano de 1899 e.v., Frater V.N. e FRATER PERDURABO invocaram o espírito Buer para manifestar-se visivelmente e curar o irmão, mas um deles também deu di nheiro para que se mudasse para um clima melhor do que o da Inglaterra. Ele se encontra vivo hoje.
Que o Elo Mágico seja forte! É o “amor sob vontade” que afirma a identidade da Equação da obra, que torna o sucesso Necessidade.
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