Tuesday, November 26, 2024

LIBER CORDIS CINCTI SERPENTE - Sub figura LXV

 LIBER CORDIS CINCTI SERPENTE

O Livro do Coração

Singido com a Serpente

Sub figura LXV

A.·.A.·.

Publicação em Classe A.

Imprimatur: N. Fra. A.·.A.·.






CAPÍTULO I:

1. Eu sou o Coração; e a Serpente está enroscada Ao redor do centro invisível da mente.

Sobe, Ó minha serpente. Agora é a hora Da inefável flor, velada e santa. Sobe, Ó minha

serpente, ao brilho de florescência Sobre o cadáver de Osíris, que flutua na tumba Ó

coração de minha mãe, de minha irmã, de mim mesmo, Tu és dado ao Nilo, ao terror de

Tifon! Ah me! Mas a glória da tempestade voraz Te enfaixa e te enrola no frenesi da

forma. Sê quieta, Ó minha alma! Que o encanto se dissolva Ao erguer-se das baquetas e

o revolver dos aeons. Vê! Em minha beleza, quão alegre Tu és, Ó Serpente, a acariciar a

coroa de meu coração! Vê! nós somos um, e a tempestade dos anos Desce ao ocaso, e o

Besouro aparece. Ó Besouro! que o zumbido de tua nota dolorosa Seja sempre o transe

desta trêmula garganta! Eu aguardo o despertar! Os chamados do alto Do Senhor Adonai,

do Senhor Adonai!

2. Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Deve sempre haver divisão na palavra.

3. Pois as cores são muitas, mas a luz é uma.

4. Portanto, tu escreves aquilo que é de madre-esmeralda, e de lápis-lazuli, e de turquesa,

e de alexandrita.

5. Um outro escreve as palavras de topázio, e de profunda ametista, e de safira cinza, e

de profunda safira com um tom como o do sangue.

6. Portanto, vós vos lamentais por causa disto.

7. Não vos contenteis com a imagem.

8. Eu, que sou a Imagem de uma Imagem, digo isto.

9. Não discutais sobre a imagem, dizendo Além! Além! Sobe-se à Coroa pela lua e pelo

Sol, e pela flecha, e pelo Fundamento, e pelo escuro lar das estrelas da terra negra.

10. Não de outra forma podeis vós alcançar a Ponta Polida.

11. Nem é apropriado ao sapateiro tagarelar sobre o assunto Real. Ó sapateiro! consertame

este sapato, para que Eu possa caminhar. Ó rei! se Eu for teu filho, falemos da

Embaixada do Rei, teu Irmão.

12. Então houve silêncio. A fala nos deixou por um tempo. Há uma luz tão estrênua que

não é percebida como luz.

13. O napelo não é tão afiado quanto o aço; porém fere o corpo mais sutilmente.

14. Assim como beijos malignos corrompem o sangue, assim minhas palavras devoram o

espírito do homem.

15. Eu sopro, e há infinita doença no espírito.

16. Como um ácido come o aço, como um câncer que corrompe completamente o corpo;

assim sou Eu para o espírito do homem.

17. Eu não descansarei até que Eu tenha dissolvido tudo isto.

18. Assim, também a luz que é absorvida. Um absorve pouca e é chamado branco e

brilhante; um absorve toda e é chamado negro.

19. Portanto, Ó meu querido, és tu negro.

20. Ó meu belo, Eu te assemelhei a um escuríssimo escravo Núbio, um menino de olhos

melancólicos.

21. Ó o imundo! O cão! eles gritam contra ti. Porque tu és meu amado.

22. Felizes são aqueles que te elogiam; pois eles te vêem com Meus olhos.

23. Não será em voz alta que eles te elogiarão; mas, na vigília noturna, alguém se

aproximará furtivamente e te cumprimentará com aperto secreto; um outro privadamente

colocará uma coroa de violetas sobre ti; um terceiro ousará grandemente, e forçará lábios

loucos contra os teus.

24. Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.

25. Tu estavas há muito Me procurando; tu correste avante tão rápido que Eu fui incapaz

de te me aproximar de ti. Ó meu querido louco! com que amargura tu coroaste os teus

dias.

26. Pois Eu estou contigo; Eu jamais deixarei o ter ser.

27. Pois Eu sou a sinuosa macia enroscada ao teu redor, coração de ouro!

28. Minha cabeça está adornada com doze estrelas; Meu corpo é branco como o leite das

estrelas; ele é brilhante com o azul do abismo de estrelas invisíveis.

29. Eu encontrei aquilo que não podia ser encontrado; Eu encontrei um vaso de mercúrio.

30. Tu instruirás teu servo nos caminhos dele, tu falarás sempre com ele.

31. (O escriba olha para cima e chora) Amém! Tu falaste isto, Senhor Deus!

32. Mais ainda, Adonai falou a V.V.V.V.V. e disse:

33. Tomemos nosso deleite na multidão dos homens! Formemos a nós mesmos um bote

de madrepérola para eles, para que nós possamos navegar sobre o rio de Amrit!

34. Tu vês aquela pétala de amaranto, soprada pelo vento das baixas sobrancelhas doces

de Hathor?

35. (O Magister a viu, e regozijou-se em sua beleza). Ouve!

36. (De um certo mundo veio um lamento infinito.) Aquela pétala caindo parecia aos

pequeninos uma onda para tragar seu continente.

37. Assim eles repreenderão teu servo, dizendo: Quem te designou para nos salvar?

38. Ele se angustiará em dor.

39. Todos eles não compreendem que tu e Eu estamos fazendo um bote de madrepérola.

Nós desceremos o rio de Amrit, mesmo até os bosques de teixos de Yama, onde

podemos nos regozijar excedentemente.

40. A alegria dos homens será o nosso brilho prateado; sua tristeza, o nosso brilho azul -

tudo na madrepérola.

41. (O escriba ficou com raiva disso. Ele disse: Ó Adonai e meu mestre, Eu carreguei o

tinteiro e a pena sem paga, para que Eu pudesse buscar esse rio de Amrit e navegar nele

como um de vós. Isto Eu exijo como meu salário: que Eu partilhe do eco de vossos

beijos.)

42. (E imediatamente isto lhe foi garantido.)

43. (Não; mas nem com isso ele ficou contente. Por uma infinita humilhação em vergonha

ele se esforçou. Então uma voz:)

44. Tu te esforças sempre; mesmo em tua entrega tu te esforças por entregar-te, e vê! tu

não te entregas.

45. Vai aos lugares mais extremos e subjuga todas as coisas.

46. Subjuga teu medo e teu desgosto. Então - te entrega!

47. Havia uma donzela que errava em meio ao trigo e suspirava; então cresceu algo novo

que nasceu, um narciso, e ali ela esqueceu seu suspiro e sua solidão.

48. No mesmo instante Hades se lançou violentamente sobre ela e a raptou.

49. (Então o escriba conheceu o narciso em seu coração; mas já que este não lhe veio

aos lábio, ele então se envergonhou e não mais falou.)

50. Adonai falou mais uma vez com V.V.V.V.V. e disse: A terra está madura para a

vindima; comamos de suas uvas, e nos embriaguemos com elas.

51. E V.V.V.V.V. respondeu e disse: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelente, como

esta palavra parecerá às crianças dos homens?

52. E Ele respondeu-lhe: Não como tu podes ver. É certo que cada letra desta cifra tem

algum valor; mas quem determinará o valor? Pois ele varia sempre, de acordo com a

sutileza d'Aquele que a fez.

53. E Ele lhe respondeu: Não tenho Eu a chave dela? Eu estou vestido com o corpo de

carne; Eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus.

54. Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça do Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu

conheces o branco, e tu conheces o negro, e tu sabes que estes são um. Mas por que

buscas tu o conhecimento da equivalência deles?

55. E ele disse: Para que minha Obra possa ser correta.

56. E Adonai disse: O forte ceifeiro moreno varreu a sua bandagem e regozijou-se. O

homem sábio contou seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e ficou triste. Ceifa

tu, e regozija-te!

57. Então o Adepto ficou alegre, e levantou seu braço. Vê! um terremoto, e praga, e terror

sobre a terra! Uma derrota dos que se sentavam em lugares elevados; uma penúria sobre

a multidão!

58. E a uva caiu madura e rica na boca dele.

59. Manchada está a púrpura da tua boca, Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de

Adonai.

60. A espuma da uva é como a tormenta sobre o mar; os navios tremem e estremecem; o

capitão tem medo.

61. Isso é a tua embriaguez, Ó santo, e os ventos rodopiam a alma do escriba para dentro

do porto feliz.

62. Ó Senhor Deus! que o porto caia na fúria da tormenta! Que a espuma da uva tinja

minha alma com a Tua luz!

63. Bacchus envelheceu, e foi Silenus; Pan foi sempre Pan, para sempre e sempre mais,

através dos aeons.

64. Intoxica o mais interno, Ó meu amante, não o mais externo.

65. Assim foi - sempre o mesmo! Eu mirei a baqueta descascada de meu Deus, e Eu

acertei; sim, Eu acertei

CAPÍTULO II :

1. Eu adentrei a montanha de lápis-lazuli, tal como um falcão verde entre os pilares de

turquesa, que está sentado sobre o trono do Leste.

2. Assim Eu cheguei a Duant, a morada estrelada, e ouvi vozes gritando alto.

3. Ó Tu que te sentas sobre a Terra! (assim me falou Um certo Velado) tu não és maior

que tua mãe! Tu, partícula de pó infinitésimo! Tu és o Senhor de Glória, e o cachorro sujo.

4. Descendo, mergulhando minhas asas, Eu cheguei às escuramente esplêndidas

moradas. Lá, naquele abismo amorfo, fui Eu feito um comungante dos Mistérios Adversos.

5. Eu sofri o abraço mortal da Cobra e do Bode; Eu prestei a homenagem infernal à

vergonha de Khem.

6. Nisso havia esta virtude, que o Um tornou-se o todo.

7. Ainda mais, Eu contemplei a visão de um rio. Lá havia um pequeno bote; e nele, sob

velas purpúreas, estava uma mulher dourada, uma imagem de Asi lavrada no mais fino

ouro. Também, o rio era de sangue, e o bote de aço brilhante. Então Eu a amei; e,

soltando meu cinturão, me atirei à correnteza.

8. Eu me recolhi no pequeno bote e, por muitos dias e noites, Eu a amei, queimando belo

incenso diante dela.

9. Sim! Eu lhe dei da flor de minha juventude.

10. Mas ela não se moveu; apenas pelos meus beijos Eu a violei, de modo que ela

tornou-se em escuridão diante mim.

11. Porém Eu a adorei, e lhe dei da flor de minha juventude.

12. Também aconteceu que, assim, ela adoeceu e se corrompeu diante de mim. Quase

Eu me atirei na correnteza.

13. Então, no fim apontado, seu corpo ficou mais branco do que o leite das estrelas, e sua

boca, vermelha e quente como o pôr do sol, e sua vida de um calor branco, como o calor

do sol do meio-dia.

14. Então ela se ergueu do abismo das Idades do Sono, e seu corpo me abraçou. Eu me

derreti completamente em sua beleza e fiquei alegrei.

15. O rio também tornou-se o rio de Amrit, e o pequeno bote era a carruagem da carne, e

suas velas, o sangue do coração que me carrega, que me carrega.

16. Ó mulher serpente das estrelas! Eu, mesmo Eu, Te fiz de uma pálida imagem de ouro

fino.

17. Também o Santo veio sobre mim, e Eu contemplei um cisne branco flutuando no azul.

18. Entre suas asas Eu me sentei, e os aeons escaparam.

19. Então o cisne voou, e mergulhou, e subiu; porém não fomos a lugar algum.

20. Um garotinho louco que viajava comigo falou ao cisne e disse:

21. Quem és tu, que flutuas, e voas, e mergulhas, e sobes no vazio? Vê, estes vários

aeons passaram; de onde tu vens? Aonde tu vais?

22. E, rindo, Eu lhe repreendi, dizendo: De lugar nenhum! A lugar nenhum!

23. Tendo o cisne se mantido silente, ele respondeu: Então, se não há propósito, para

que esta jornada eterna?

24. E Eu deitei a minha cabeça contra a Cabeça do Cisne, e ri, dizendo: Não há alegria

inefável neste vôo sem propósito? Não há cansaço e impaciência para quem quiser atingir

algum alvo?

25. E o cisne ficou sempre silente. Ah! mas nós flutuamos no infinito Abismo. Alegria!

Alegria! Cisne branco, carrega-me sempre entre as tuas asas!

26. Ó silêncio! Ó êxtase! Ó final das coisas visíveis e invisíveis! Isto é tudo meu, que Não

sou.

27. Deus Radiante! Deixa que Eu faça uma imagem de gemas e ouro para Ti! para que o

povo possa derrubá-la e pisotea-la ao pó! Que Tua glória possa ser vista por eles.

28. Nem será dito nos mercados que Eu vim como deveria ter vindo; mas a Tua vinda

será a palavra única.

29. Tu Te manifestarás no imanifesto; nos lugares secretos, os homens se encontrarão

contigo, e Tu os conquistarás.

30. Eu vi um triste jovem pálido que se deitou sobre o mármore à luz do sol e chorou. Ao

seu lado estava o alaúde esquecido. Ah! mas ele chorava.

31. Então veio uma águia do abismo de glória e o cobriu com sua sombra. Tão negra era

a sombra, que ele não era mais visível.

32. Mas Eu ouvi o alaúde tocando vivamente através do quieto ar azul.

33. Ah! mensageiro do Amado, que Tua sombra me cubra!

34. Teu nome é Morte, talvez; ou Vergonha, ou amor. Se me trazes notícias do Amado,

Eu não perguntarei teu nome.

35. Onde está o Mestre agora? gritam os loucos garotinhos. Ele está morto! Ele está

envergonhado! Ele está casado! e sua zombaria dará a volta ao mundo.

36. Mas o Mestre terá tido a sua recompensa. O riso dos zombadores será um sussurro

no cabelo do Amado.

37. Vê! o Abismo da Grande Profundeza. Ali está um poderoso golfinho, batendo seus

lados com a força das ondas.

38. Há também um harpista de ouro, tocando músicas infinitas.

39. Então o golfinho deleitou-se nelas, e deixou seu corpo, e se tornou um pássaro.

40. O harpista também pôs de lado sua harpa, e tocou músicas infinitas na flauta de Pan.

41. Então a ave desejou em excesso esta alegria e, baixando suas asas, tornou-se um

fauno da floresta.

42. O harpista também baixou sua flauta de Pan, e com a voz humana cantou suas

músicas infinitas.

43. Então o fauno encantou-se e lhe seguiu; por fim o harpista ficou silente, e o fauno

tornou-se Pan no meio da floresta primaz da Eternidade.

44. Tu não podes encantar o golfinho com silêncio, Ó meu profeta!

45. Então o adepto foi arrebatado em alegria, e no além da alegria, e excedeu o excesso

do excesso.

46. Também seu corpo tremeu e cambaleou com o peso daquela alegria, e daquele

excesso, e daquele supremo inominado.

47. Eles gritaram Ele está embriagado ou Ele está louco ou Ele sente dor ou Ele está

prestes a morrer; e ele não os ouviu.

48. Ó meu Senhor, meu amado! Como Eu comporei canções, quando até a memória da

sombra da tua glória é uma coisa além de toda música da fala ou do silêncio? 49. Vê! Eu

sou um homem. Mesmo uma criancinha não poderia Te suportar. E olha!

50. Eu estava sozinho num grande parque e, perto de um certo outeirinho, estava um anel

de profunda relva esmaltada, onde alguns vestidos de verde, belíssimos, brincavam.

51. Em sua brincadeira, Eu cheguei até mesmo até a terra do Sono Encantado. Todos os

pensamentos se vestiam de verde; belíssimos eram eles.

52. A noite inteira eles dançaram e cantaram; mas Tu és a manhã, Ó meu querido, minha

serpente, que Te enroscas ao redor deste coração.

53. Eu sou o coração, e Tu, a serpente. Enrosca mais teus anéis a minha volta, para que

nem luz nem alegria possam penetrar.

54. Espreme para fora o meu sangue, como uma uva sobre a língua de uma branca jovem

Dórica que adoece com seu amante ao luar.

55. Então, que o Fim desperte. Por longo tempo tu dormiste, Ó grande Deus Terminus!

Por longas idades, tu esperaste no fim da cidade e das suas estradas. Acorda Tu! não

esperes mais! 5

6. Não, Senhor! mas Eu vim a Ti. Sou Eu quem espera no fim.

57. O profeta gritou contra a montanha: vem tu aqui, para que Eu possa falar contigo!

58. A montanha não se moveu. Portanto, foi o profeta até a montanha, e lhe falou. Mas os

pés do profeta estavam cansados, e a montanha não ouviu a sua voz.

59. Mas Eu chamei por Ti, e Eu viajei a Ti, e de nada me valeu.

60. Eu esperei pacientemente, e Tu estavas comigo desde o início.

61. Isto agora Eu sei, Ó meu amado, e nós estamos deitados à vontade entre as videiras.

62. Mas estes teus profetas; eles devem gritar alto e flagelarem-se; eles devem cruzar

desertos não trilhados e oceanos não sondados; Te esperar é o fim, não o princípio.

63. Que escuridão cubra a escrita! Que o escriba parta por entre os seus caminhos.

64. Mas tu e Eu estamos deitados à vontade entre as videiras; o que é ele?

65. Ó Tu, Amado! não há um fim? Não, mas há um fim. Acorda! levanta-te! golpeia teus

membros, Ó tu, corredor; leva a Palavra até as poderosas cidades, sim até as poderosas

cidades.

CAPÍTULO III:

1. Verdadeiramente e Amém! Eu passei pelo mar profundo e pelos rios de água corrente

que afluem ali, e Eu cheguei à Terra de Nenhum Desejo.

2. Onde estava um unicórnio branco com uma coleira de prata, na qual estava gravado o

aforisma Linea viridis gyrat universa.

3. Então a palavra de Adonai veio a mim pela boca do Magister meu, dizendo: Ó coração

que estás cingido com os anéis da velha serpente, levanta-te à montanha da iniciação!

4. Mas Eu recordei. Sim, Than, sim, theli, sim Lilith! estas três estavam a minha volta há

muito tempo. Pois elas são uma.

5. Bela eras tu, Ó Lilith, tu mulher-serpente!

6. Tu eras flexível e deliciosa para o gosto, e teu perfume era de almíscar misturado com

âmbar gris.

7. Tu apertavas forte o coração com teus anéis, e isso era como a alegria de toda a

primavera.

8. Mas Eu vi em ti uma certa mancha, mesmo naquilo em que Eu me deleitava.

9. Eu vi em ti a mancha do teu pai, o macaco; do teu avô, o Verme Cego do Lodo.

10. Eu olhei o Cristal do Futuro, e Eu vi o horror do teu Fim.

11. Ainda mais, Eu destruí o tempo Passado, e o tempo Porvir - não tinha Eu o Poder da

Ampulheta?

12. Mas na própria hora Eu vi corrupção.

13. Então Eu disse: Ó meu amado, Ó Senhor Adonai, Eu te rogo que afrouxes os anéis da

serpente!

14. Mas ela estava fortemente apertada ao meu redor, de modo que minha Força era

impedida em seu começo.

15. Também Eu orei ao Deus Elefante, o Senhor dos Começos, que derruba obstrução.

16. Estes deuses vieram rapidamente em minha ajuda. Eu os vi; Eu me uni a eles; Eu me

perdi em sua vastidão.

17. Então Eu me vi circundado pelo Infinito Círculo de Esmeralda que cerca o Universo.

18. Ó Serpente de Esmeralda, Tu não tens tempo Passado, nem tempo Porvir.

Verdadeiramente, Tu não és.

19. Tu és deliciosa além de todo sabor e tato, Tu não deves ser vista de glória, Tua voz

está além da Fala e do Silêncio e da Fala que há ali, e Teu perfume é de puro âmbar gris,

que não se pesa contra o mais fino ouro do ouro fino.

20. Também Teus anéis são de infinito alcance; o Coração que Tu envolves é um

Coração Universal.

21. Eu, e Mim, e Meu estavam sentados com alaúdes no mercado da grande cidade, a

cidade das violetas e das rosas.

22. A noite caiu, e a música dos alaúdes foi silenciada.

23. A tempestade surgiu, e a música dos alaúdes foi silenciada. 24. A hora passou, e a

música dos alaúdes foi silenciada.

25. Mas Tu és a Eternidade e o Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negação

de todas estas coisas.

26. Pois não há Símbolo de Ti.

27. Se Eu digo Subi sobre as montanhas! as águas celestiais fluem à minha palavra. Mas

tu és a Água além das águas.

28. O coração triangular vermelho foi colocado em Teu santuário, pois os sacerdotes

desprezaram igualmente o santuário e o deus.

29. Porém, o tempo todo Tu estavas escondido ali, como o Senhor do Silêncio está

escondido nos botões do lótus.

30. Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Assassino na Profundeza. Tu és

Tifon, a Fúria dos Elementos, Ó Tu, que transcendes as Forças em seu Concurso e

Coesão, em sua Morte e Ruptura. Tu és Piton, a terrível serpente ao redor do fim de todas

as coisas!

31. Eu me virei três vezes em todas as direções; e sempre Eu cheguei a Ti no final.

32. Muitas coisas Eu vi, mediatas e imediatas; mas não as vendo mais, Eu Te vi.

33. Vem Tu, Ó Amado! Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vasto, Ó Diminuto! Eu sou o Teu

amado.

34. O dia todo, Eu canto sobre o Teu deleite; a noite toda, Eu me deleito no Teu canto.

35. Não há outro dia ou noite que este.

36. Tu estás além do dia e da noite; Eu sou Tu mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu

Companheiro!

37. Eu sou como o cachorrinho vermelho sentado nos joelhos do Desconhecido.

38. Tu me trouxeste ao grande deleite. Tu me deste de Tua carne para comer e do Teu

sangue como uma oferta de intoxicação.

39. Tu fincaste as presas da Eternidade em minha alma, e o Veneno do Infinito me

consumiu ao máximo.

40. Eu me tornei um voluptuoso diabo da Itália; uma formosa mulher forte de face

exausta, comida de fome de beijos. Ela bancou a rameira em diversos palácios; ela deu

seu corpo às bestas.

41. Ela matou seus parentes com forte veneno de sapos; ela foi flagelada com muitas

varas.

42. Ela foi despedaçada sobre a Roda; as mãos do carrasco a amarraram ali.

43. As fontes d'água foram abertas sobre ela; ela lutou contra excessivo tormento.

44. Ela se estourou em pedaços com o peso das águas; ela afundou no horroroso mar.

45. Assim sou Eu. Ó Adonai, meu senhor, e assim são as águas da Tua intolerável

Essência.

46. Assim sou Eu, Ó Adonai, meu amor, e Tu te estouraste em pedaços completamente.

47. Eu estou derramado como sangue entornado sobre as montanhas; os Corvos da

Dispersão me carregaram para longe demais.

48. Portanto está afrouxado o selo que guardava o Oitavo abismo; portanto é o vasto mar

como um véu; portanto há uma separação de todas as coisas.

49. Sim, também, verdadeiramente, Tu és a quieta água fresca da fonte encantada. Eu

me banhei em Ti e me perdi em Tua quietude.

50. Aquele que entrou como um bravo menino de belos membros surge como uma

donzela, como uma criancinha em sua perfeição.

51. Ó Tu, luz e deleite, arrebata-me ao oceano leitoso das estrelas.

52. Ó Tu, Filho de uma mãe que transcende a luz, abençoado seja o Teu nome, e o Nome

do Teu Nome, através das idades!

53. Vê! Eu sou uma borboleta na Fonte da Criação; deixa-me morrer antes da hora caindo

morto na Tua corrente infinita!

54. Também a corrente das estrelas flui sempre majestosa para a Morada; leva-me

embora sobre o colo de Nuit!

55. Este é o mundo das águas de Main; esta é a água amarga que se torna doce. Tu és

belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu, Abismo de Safira.

56. Eu Te sigo, e as águas da Morte lutam cansativamente contra mim. Eu passo às

Águas além da Morte e além da Vida.

57. Como Eu responderei ao homem tolo? De nenhum modo ele chegará à Tua

Identidade!

58. Mas Eu sou o Tolo que não dá atenção ao Jogo do Mago. A mim a Mulher dos

Mistérios instrui em vão; Eu rompi os laços do Amor e do Poder e da Adoração.

59. Portanto é a Águia feita una com o Homem, e a força de infâmia dança com o fruto do

justo.

60. Eu desci, Ó meu querido, às brilhantes águas negras, e Te colhi como uma pérola

negra de infinita preciosidade.

61. Eu baixei, Ó meu Deus, no abismo do todo, e Eu Te encontrei no meio sob o disfarce

de Nada.

62. Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo Eu Te revelo à

multidão.

63. Aqueles que sempre Te desejaram Te obterão, mesmo no Fim do seu Desejo.

64. Glorioso, glorioso, glorioso és Tu, Ó meu amante supernal, Ó Ser de mim mesmo.

65. Pois Eu Te encontrei igualmente no Mim e no Ti; não há diferença, Ó meu belo, meu

Desejável! No Um e nos Muitos Eu Te encontrei; sim, Eu Te encontrei.

CAPÍTULO IV:

1. Ó coração cristalino! Eu, a Serpente, Te abraço; Eu penetro minha cabeça no Teu

coração central, Ó Deus, meu amado.

2. Mesmo como nas ressonantes alturas varridas de vento de Metilene alguma mulher

como deusa põe de lado a lira e, com seus cachos flamejando como uma auréola,

mergulha no coração úmido da criação, assim Eu, Ó Senhor meu Deus!

3. Há uma beleza indizível neste coração de corrupção, onde as flores flamejam.

4. Ah me! mas a sede de Tua alegria resseca esta garganta, de modo que Eu não posso

cantar.

5. Eu me farei um pequeno bote de minha língua, e explorarei os rios desconhecidos.

Pode ser que o eterno sal vire doçura, e que minha vida não seja mais sedenta.

6. Ó vós, que bebeis da salmoura do vosso desejo, vós estais perto da loucura! Vossa

tortura cresce quando vós bebeis, porém ainda bebeis. Subi pelos riachos até a água

fresca; Eu estarei vos esperando com os meus beijos.

7. Como a pedra-bazar, que é encontrada na barriga da vaca, assim é o meu amante

entre os amantes.

8. Ó menino de mel! Traze-me para cá Teus membros frescos! Sentemo-nos por um

pouco no pomar, até o sol se pôr! Festejemos sobre a relva fresca. Trazei vinho, vós

escravos, para que as bochechas do meu menino se avermelhem.

9. No jardim dos beijos imortais, Ó tu Brilhante, resplandece! Faze de Tua boca uma

papoula, porque um beijo é a chave do sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.

10. Em meu sono Eu contemplei o Universo como um claro cristal sem uma mancha.

11. Existem uns arrogantes por causa do dinheiro sem um centavo, que ficam à porta da

taverna e tagarelam de seus feitos de bebedores de vinho.

12. Existem uns arrogantes por causa do dinheiro sem um centavo, que ficam à porta da

taverna e insultam os hóspedes.

13. Os hóspedes brincam sobre camas de madrepérola no jardim; o barulho dos homens

tolos está escondido deles.

14. Apenas o estalajadeiro teme que o favor do rei lhe seja tirado.

15. Assim falou o Magister V.V.V.V.V. a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos

sob a luz das estrelas contra a profunda poça negra que está no Lugar Santo da Casa

Santa sob o Altar do Santíssimo.

16. Mas Adonai riu, e brincou mais languidamente.

17. Então o escriba tomou nota, e ficou feliz. Mas Adonai não tinha medo do Magista e

seu brinquedo. Pois foi Adonai quem ensinou todos os seus truques ao Magista.

18. E o Magister entrou no jogo do Magista. Quando o Magista ria, ele ria; tudo como um

homem deveria fazer.

19. E Adonai disse: Tu estás embaraçado na rede do Magista. Isto Ele disse sutilmente,

para testá-lo.

20. Mas o Magister deu o sinal do Magistério e riu-se de novo d'Ele: Ó senhor, Ó amado,

relaxaram-se estes dedos nos Teus cachos, ou desviaram-se estes olhos do Teu olho?

21. E Adonai deleitou-se excedentemente nele.

22. Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Amado; o pássaro Bennu não está posto em

Philae em vão.

23. Eu, que fui a sacerdotisa de Ahathoor, regozijo-me no teu amor. Ergue-te, Ó Deus do

Nilo, e devora o santo lugar da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por

Sebek, o habitante do Nilo!

24. Levanta-te, Ó serpente Apep, Tu és Adonai, o amado! Tu és meu querido e meu

senhor, e Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis, a mãe dos Deuses!

25. Pois Tu és Ele! Sim, Tu engolirás Asi e Asar, e os filhos de Ptah. Tu derramarás uma

enxurrada de veneno para destruir os trabalhos do Magista. Somente o Destruidor Te

devorará; Tu enegrecerás a garganta dele, onde seu espírito habita. Ah, serpente Apep,

mas Eu Te amo!

26. Meu Deus! Que Tua presa secreta perfure até o tutano do pequenino osso secreto

que Eu guardei contra o Dia da Vingança de Hoor-Ra. Que Kheph-Ra soe seu zumbido

quebrado! que os chacais de Dia e Noite uivem na confusão do Tempo! que as Torres do

Universo tremam, e os guardiões corram para longe! Pois meu Senhor revelou-Se como

uma poderosa serpente, e o meu coração é o sangue do Seu corpo.

27. Eu sou como uma cortesã de Corinto doente de amor. Eu brinquei com reis e

capitães, e os fiz meus escravos. Hoje Eu sou a escrava do pequeno álamo da morte; e

quem desatará o nosso amor?

28. Cansado, cansado! diz o escriba, quem me levará à visão do Êxtase do meu mestre?

29. O corpo está cansado, e a alma extremamente cansada, e sono lhes pesa as

pálpebras; entretanto, sempre permanece a consciência segura do êxtase, desconhecido,

porém conhecido na medida em que sua existência é certa. Ó Senhor, sê meu ajudante, e

leva-me à alegria do Amado!

30. Eu cheguei à casa do Amado, e o vinho era como fogo que voa com asas verdes pelo

mundo das águas.

31. Eu senti os lábios vermelhos da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs

elas me acariciaram seu irmãozinho; elas me embelezaram como uma noiva; elas me

subiram ao Teu quarto de núpcias. 32. Elas fugiram à Tua vinda; Eu fiquei só diante de Ti.

33. Eu tremi à Tua vinda, Ó meu Deus, pois Teu mensageiro era mais terrível que a

estrela da Morte.

34. No umbral ficou a fulminante figura do Mal, o Horror do vazio, com seus olhos

horrendos como poços venenosos. Ele ficou, e o quarto corrompeu-se; o ar fedia. Ele era

um peixe velho e enrugado, mais medonho que os cascões de Abaddon.

35. Eles me envolveu com seus tentáculos demoníacos; sim, os oito medos se apossaram

de mim.

36. Mas Eu estava ungido com o dulcíssimo óleo do Magister; Eu escorreguei do abraço

como uma pedra do estilingue de um menino das florestas.

37. Eu era liso e duro como o marfim; o horror não conseguiu apoio. Então, ao som do

vento da Tua vinda, ele foi dissolvido, e o abismo do grande vazio foi desdobrado diante

de mim.

38. Através do mar sem ondas da eternidade Tu flutuaste com Teus capitães e Tuas

tropas; com Tua carruagem e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste pelo azul.

39. Antes que Eu Te visse, Tu já estavas comigo; Eu fui atravessado por Tua maravilhosa

lança.

40. Eu fui abatido como um pássaro pelo relâmpago do Fulminante; Eu fui perfurado como

o ladrão pelo Senhor do Jardim.

41. Ó meu Senhor, naveguemos sobre o mar de sangue!

42. Existe uma profunda mancha sob a alegria inefável; é a mancha da geração.

43. Sim, embora a flor dance brilhante à luz do sol, a raiz está funda na escuridão da

terra.

44. Louvor a ti, Ó bela terra negra, tu és a mãe de um milhão de miríades de miríades de

flores.

45. Também, Eu contemplei meu Deus, e Sua face era mil vezes mais brilhante do que o

relâmpago. Porém em seu coração Eu vi o Lento e Escuro, o ancião, o devorador de Seus

filhos.

46. No alto e no abismo, Ó meu belo, não há nada, verdadeiramente, não há coisa

alguma que não seja completamente e perfeitamente feita para o Teu deleite.

47. O Claro se une ao Claro, e a imundície à imundície; com orgulho, um acusa o outro.

Mas não Tu, que és tudo, e além disso; que estás absolvido da Divisão das Sombras.

48. Ó dia da Eternidade, que Tua onda se quebre em glória sem espuma de safira sobre o

laborioso coral de nossa feitura!

49. Nós fizemo-nos um anel de branca areia brilhante, espalhada sabiamente no meio do

Oceano Deleitoso.

50. Que as palmeiras de brilho floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto,

e seremos felizes.

51. Mas para mim a água lustral, a grande ablução, a dissolução da alma naquele

ressonante abismo.

52. Eu tenho um filhinho como um bode atrevido; minha filha é como uma águia nova sem

plumas; eles conseguirão nadadeiras, para que possam nadar.

53. Para que eles possam nadar, Ó meu amado, nadar longe no morno mel do Teu ser, Ó

abençoado, Ó menino de beatitude!

54. Este meu coração está envolvido com a serpente que devora seus próprios anéis.

55. Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando serão o Universo e seu Senhor

completamente tragados?

56. Não! quem devorará o Infinito? quem desfará o Erro do Princípio?

57. Tu gritas como um gato branco sobre o telhado do Universo; ninguém há que Te

responda.

58. Tu és como um pilar solitário no meio do mar; ninguém para Te ver, Ó Tu, que tudo

vês!

59. Tu te enfraqueces, tu fracassas, tu, escriba; gritou a Voz desolada; mas Eu te enchi de

um vinho cujo sabor tu não conheces.

60. Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinza que rola no infinitamente

Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sangue de uma bela cortesã

perfurada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.

61. Eu Também sou a Alma do deserto; tu me buscarás mais uma vez na solidão da

areia.

62. À tua mão direita, um grande senhor, e um gracioso; à tua mão esquerda, uma mulher

vestida em teias e ouro, e tendo as estrelas em seu cabelo. Vós viajareis longe numa terra

de mal e pestilência; vós acampareis no rio de uma tola cidade esquecida; lá vos

encontrareis Comigo.

63. Lá Eu farei Minha habitação; como para bodas, Eu virei enfeitado e ungido; lá a

Consumação será realizada.

64. Ó meu querido, Eu também, espero pelo brilho da hora inefável, quando o universo

será como um cercado para o meio do raio do nosso amor, estendendo-se além do fim

permitido do Eterno.

65. Então, Ó tu coração, Eu, a serpente, te devorarei totalmente; sim, Eu te devorarei

totalmente.

CAPÍTULO V:

1. Ah! meu Senhor Adonai, que brincas com o Magister na Tesouraria de Pérolas, deixame

escutar o eco dos teus beijos.

2. Não é o céu estrelado agitado como uma folha ao trêmulo êxtase do teu amor? Não

sou Eu a esvoaçante fagulha de luz jogada longe pelo grande vento da tua perfeição?

3. Sim, gritou o Santíssimo, e da Tua fagulha Eu, o Senhor, acenderei uma grande luz; Eu

queimarei toda a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei de sua grande

impureza.

4. E tu, Ó profeta, verás estas coisas, e tu não darás atenção a elas.

5. Agora está o Pilar estabelecido no Vazio; agora está Asi preenchida por Asar; agora é

Hoor baixado à Alma Animal das Coisas como uma estrela de fogo que cai sobre a

escuridão da terra.

6. Através da meia-noite, tu és deixado cair, Ó minha criança, meu conquistador, meu

capitão envolvido com a espada, Ó Hoor! e eles te acharão como uma brilhante pedra

negra áspera, e eles te adorarão.

7. Meu profeta profetizará sobre ti; em tua volta as donzelas dançarão, e brilhantes bebês

nascerão para elas. Tu inspirarás os orgulhosos com infinito orgulho, e os humildes com

um êxtase de humilhação; tudo isto transcenderá o Conhecido e o Desconhecido com

algo que não tem nome. Pois é como o abismo do Arcano que é aberto no secreto Lugar

do Silêncio.

8. Tu chegaste até aqui, Ó meu profeta, através de graves caminhos. Tu comeste do

estrume dos Abomináveis; tu te prostraste diante do bode e do Crocodilo; os homens

maus fizeram de ti um brinquedo; tu vagaste como uma prostituta pintada, arrebatante

com doce aroma e pintura chinesa, pelas ruas; tu escureceste os cantos dos teus olhos

com Kohl; tu tingiste teus lábios de vermelho; tu emplastraste tuas bochechas com

esmaltes de marfim. Tu bancaste a libertina em todo portão e cada atalho da grande

cidade. Os homens da cidade te seguiram desejosos de te abusar e te bater. Eles

mastigaram as lantejoulas douradas de fino pó com as quais tu enfitaste os teus cabelos;

eles açoitaram a tua carne pintada com seus chicotes; tu sofreste coisa indizíveis.

9. Mas Eu queimei dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia-noite Eu fui mais

brilhante do que a lua; durante o dia Eu excedi completamente o sol; nos atalhos do teu

ser, Eu flamejei e dissipei a ilusão.

10. Portanto tu és totalmente puro diante de Mim; portanto tu és a Minha virgem para a

eternidade.

11. Portanto Eu te amo com excedente amor; portanto os que te desprezam te adorarão.

12. Tu serás amável e piedoso com eles; tu os curarás do mal impronunciável.

13. Eles mudarão em sua destruição, tal como duas estrelas escuras que se chocam no

abismo e resplandecem num infinito incêndio.

14. Nesse tempo todo, Adonai perfurou o meu ser com sua espada que tem quatro

lâminas; a lâmina do relâmpago, a lâmina da Torre, a lâmina da serpente, a lâmina do

Falo.

15. Também, ele me ensinou a santa impronunciável palavra Ararita, de modo que Eu

derreti o ouro sêxtuplo num único ponto invisível, do qual nada pode ser dito.

16. Pois o Magistério desta Opus é um magistério secreto, e o sinal do mestre disso é um

certo anel de lápis-lazuli com o nome do meu mestre, que sou Eu, e o Olho do Meio, dele.

17. Também Ele falou e disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o desvelarás ao profano,

nem ao neófito, nem ao zelator, nem ao practicus, nem ao philosophus, nem ao adepto

menor, nem ao adepto maior.

18. Mas ao adepto exemplo tu te desvelarás, se tiveres necessidade dele para as

operações menores da tua arte.

19. Aceita a adoração das pessoas tolas, a quem tu odeias. O Fogo não é desonrado

pelos altares dos Ghebers, nem é a Lua contaminada pelo incenso dos que adoram a

Rainha da Noite.

20. Tu viverás em meio ao povo como um diamante precioso entre diamantes turvos, e

cristais, e pedaços de vidro. Somente o olho do mercador justo te contemplará e,

mergulhando sua mão, te escolherá e te glorificará diante dos homens.

21. Mas tu não cuidarás de nada disto. Tu serás sempre o coração, e Eu, a serpente, Me

enroscarei apertado à tua volta. Meus anéis nunca se relaxarão através dos aeons. Nem

mudança nem sofrimento nem insubstancialidade te terão; pois tu passaste além destes

todos.

22. Tal como o diamante brilhará vermelho para a rosa e verde para a folha da roseira;

assim tu permanecerás apartado das Impressões.

23. Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.

24. Também tu estás além das estabilidades do Ser e da Consciência e da Alegria; pois

Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.

25. Também tu discursarás sobre estas coisas ao homem que as escreve, e ele partilhará

delas como um sacramento; pois Eu, que sou, tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no

vazio.

26. Da Coroa ao Abismo, assim isto vai sozinho e ereto. Também a esfera ilimitada

resplandecerá com o seu brilho.

27. Tu te regozijarás nas poças de água adorável; tu enfeitarás tuas donzelas com

pérolas de fecundidade; tu acenderás chama como línguas lambentes de licor dos

Deuses entre as poças.

28. Também, tu converterás o tudo-tocante ar nos ventos de água pálida, tu transmutarás

a terra num abismo azul de vinho.

29. Rubros são os raios de rubi e ouro que piscam ali; uma gota intoxicará o Senhor dos

Deuses meu servo.

30. Também, Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Ó meu pequeno, meu tenro, meu

pequeno amoroso, minha gazela, meu belo, meu menino, enchamos o pilar do Infinito

com um beijo infinito!

31. De modo que o estável foi agitado e o instável tornou-se calmo.

32. Aqueles que viram isto gritaram como um formidável medo: O fim das coisas chegou

sobre nós.

33. E foi mesmo assim.

34. Também, Eu estive na visão do espírito e contemplei uma pompa parricida de

ateístas, unidos de dois em dois no êxtase supernal das estrelas. Eles riam e se

regozijavam extremamente, estando vestidos em robes purpúreos, e toda a sua alma era

uma flama-flor purpúrea de santidade.

35. Eles não viam Deus; eles não viam a Imagem de Deus; portanto eles estavam

elevados ao Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeava diante deles, e o

verme Esperança retorceu-se em sua agonia de morte sob os seus pés.

36. Mesmo quando o êxtase deles despedaçou a Esperança visível, assim também o

Medo Invisível correu para longe e não mais foi.

37. Ó vós, que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! abençoados sois vós pelas das

idades.

38. Eles modelaram a Dúvida como uma foice, e colheram as flores da Fé para suas

grinaldas.

39. Eles modelaram o Êxtase como uma lança, e perfuraram o velho dragão que estava

sentado sobre a água estagnada.

40. Então as fontes frescas foram libertadas, para que a gente sedenta pudesse ficar à

vontade.

41. E novamente Eu fui arrebatado à presença de meu Senhor Adonai, e ao

conhecimento e Conversação do Sagrado, o Anjo que me Guarda.

42. Ó Santo Exaltado, Ó Ser além do ser, Ó Imagem Auto-Luminosa do Nada

Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, aparece Tu e me segue.

43. Adonai, divino Adonai, que Adonai inicie a refulgente brincadeira! Assim Eu escondi o

nome do nome d'Ela que inspira meu êxtase, o odor de cujo corpo confunde a alma, a luz

de cuja alma rebaixa este corpo até as bestas.

44. Eu suguei o sangue com meus lábios; Eu sequei a beleza d'Ela de seu sustento; Eu A

rebaixei diante de mim, Eu A dominei, Eu A possui, e a vida d'Ela está dentro de mim. No

sangue d'Ela Eu inscrevo os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que ninguém

compreenderá -- salvo apenas os puros e voluptuosos, os castos e obscenos, os

andróginos e as ginândricos, que passaram além das barras da prisão que o velho Lodo

de Khem colocou nos Portões de Amennti.

45. Ó minha adorável, minha deliciosa, a noite inteira Eu derramarei a libação sobre os

Teus altares; a noite inteira Eu queimarei o sacrifício de sangue; a noite inteira Eu

balançarei o turíbulo do meu deleite diante de Ti, e o fervor das orações intoxicará as

Tuas narinas.

46. Ó Tu que vieste da terra do Elefante, envolto na pele do tigre, e engrinaldado com o

lótus do espírito, inebria Tu a minha vida com a Tua loucura, para que Ela pule quando Eu

passar.

47. Ordena às Tuas donzelas que Te seguem que nos façam uma cama de flores

imortais, para que tomemos o nosso prazer sobre ela. Ordena aos Teus sátiros que

amontoem espinhos entre as flores, para que tomemos nossa dor sobre elas. Que o

prazer e a dor sejam misturados em uma suprema oferta ao Senhor Adonai!

48. Também, Eu ouvi a voz de Adonai, o Senhor, o desejável, acerca daquilo que está

além.

49. Que os habitantes do Thebai e seus templos não tagarelem sempre sobre os Pilares

de Hércules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma bela água?

50. Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois todo passo é uma morte e

um nascimento. O sacerdote de Ísis levantou o véu de Ísis, e foi morto pelos beijos de sua

boca. Então foi ele o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.

51. Que o fracasso e a dor não desencorajem os adoradores. As fundações da pirâmide

foram lavradas na rocha viva antes do pôr-do-sol; chorou o rei na aurora porque a coroa

da pirâmide ainda não havia sido lavrada na terra distante?

52. Houve também um beija-flor que falou ao cerasta de chifres, e rogou-lhe por veneno.

E a grande cobra de Khem, o Santo, a real serpente Ureus, respondeu-lhe e disse:

53. Eu naveguei sobre o céu de Nu no carro chamado Milhões-de-Anos, e não vi qualquer

criatura sobre Seb que fosse igual a mim. O veneno da minha presa é a herança de meu

pai e do pai de meu pai; e como Eu o darei a ti? Vivei tu e teus filhos como Eu e meus

pais vivemos, mesmo por cem milhões de gerações, e pode ser que a misericórdia dos

Poderosos confira sobre teus filhos uma gota do veneno da antigüidade.

54. Então o beija-flor ficou aflito em seu espírito, e voou até as flores, e foi como se nada

tivesse sido dito entre eles. Porém, em um curto momento, uma serpente o golpeou, e ele

morreu.

55. Mas um Íbis que meditava sobre a margem do Nilo, o belo deus, ouviu e escutou. E

ele pôs de lado seus modos de Íbis e tornou-se como uma serpente, dizendo Talvez em

cem milhões de milhões de gerações dos meus filhos eles conseguirão uma gota do

veneno da presa do Exaltado.

56. E vê! antes que a lua enchesse três vezes, ele se tornou uma serpente Ureus, e o

veneno da presa foi estabelecido nele e sua semente também, para sempre e para

sempre.

57. Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, isto é uma partícula do mais diminuto

tempo, esta viagem pela eternidade, e na Tua vista as marcas são de formoso mármore

branco intocado pelo instrumento do escultor. Portanto Tu és meu, mesmo agora e para a

eternidade. Amém.

58. Além disto, Eu ouvi a voz de Adonai: Sela o livro do Coração e da Serpente; no

número cinco e sessenta sela tu o livro sagrado. Como ouro fino que é forjado num

diadema para a formosa rainha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas

juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, assim ata tu as palavras e as ações,

de modo que em tudo haja um Pensamento de Mim, teu deleite, Adonai.

59. E Eu respondi e disse: Está feito mesmo de acordo com a Tua palavra. E foi feito. E

aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram à terra desolada das Palavras

Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue foram os escolhidos de Adonai, e o

Pensamento de Adonai era uma Palavra e uma Ação; e eles habitaram na Terra que os

viajantes distantes chamam Nada.

60. Ó terra além do mel e das especiarias e toda perfeição! Eu habitarei aí com o meu

Senhor para sempre.

61. E o Senhor Adonai Se deleita em mim, e Eu carrego a Taça da Sua felicidade até as

pessoas cansadas da velha terra cinza.

62. Os que bebem dela são golpeados por doença; a abominação tem poder sobre eles, e

seu tormento é como a grossa fumaça negra da morada do mal.

63. Porém os escolhidos beberam dela e se tornaram iguais ao meu Senhor, meu belo,

meu desejável. Não há vinho como este vinho.

64. Eles estão reunidos num coração ardente, como Ra, que juntou suas nuvens ao Seu

redor ao cair da tarde, num mar derretido de alegria; e a serpente, que é a coroa de Ra,

os une com o abraço dourado dos beijos da morte.

65. Assim também é o fim do livro, e o Senhor Adonai está a sua volta por todos os lados,

como um Relâmpago, e uma Torre, e uma Serpente, e um Falo, e no meio disto Ele é

como uma Mulher que jorra o leite das estrelas de seus mamilos; sim o leite das estrelas

de seus mamilos.

No comments:

Post a Comment

ALEISTER CROWLEY - SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS  por Aleister Crowley  I  Cada criança deve desenvolver a sua própria Individualidade e Vontade, desconsideran...